Belo Monte: Carta à Presidente Dilma, crônica de Paulo Sanda
Outro dia eu estava conversando com o sr. Anivaldo Padilha, o pai do ministro da saúde Alexandre Padilha.
Ele me falava da grande alegria que foi ver a senhora presidente subindo a rampa do planalto, como a primeira mulher a assumir a presidência da república no Brasil.
Ele ainda se lembra vivamente da dor e da tristeza, que compartilhara com vossa excelência, quando as únicas pessoas que tinham para conversar eram uma ao outro, em suas celas vizinhas em São Paulo, na época da ditadura militar.
Ambos, vítimas de um sistema que oprimia e matava quem discordasse dele.
Foram anos difíceis de muito choro e revolta, tanto para a senhora presidente como para muitas outras pessoas, que acreditavam na liberdade.
Ainda choro e fico indignado quando ouço os relatos.
Mas vejam, as pessoas que o faziam, acreditavam estar agindo corretamente, este era o sistema, na visão delas, estavam cumprindo seu dever.
Não estou dizendo que estavam corretas, nem que o que faziam não era abusivo.
Certamente, nada pode justificar a violência e a injustiça que reinavam naquela época.
Mas o Brasil está progredindo.
As minorias estão paulatinamente conquistando seus espaços.
Tivemos um homem do povo na presidência e agora temos uma mulher.
Mas veja só.
Na época das bandeiras, que foram explorar o interior do Brasil em busca de ouro e pedras preciosas, matar índios era a coisa uma coisa tranquila, eles não eram sequer considerados gente.
Depois ainda na primeira metade do século XX, quando saiu a expedição Roncador Xingú, matava-se os índios que ameaçassem os homens dela. Mas graças a conscientização em relação aos direitos humanos, personalizada neste caso em nossos grandes sertanistas os irmãos Villas Boas, que repetiam o lema do Marechal Cândido Rondon, “Morrer se preciso for, matar jamais”, que recusavam a matança de índios. Os massacres foram contidos.
Então, não é mais aceita a matança dos indígenas, apesar que ainda acontecem.
Mas condenar milhares deles a morte, lenta e sofrida pela perda de sua cultura e seu modo de vida, para construir a usina hidroelétrica de Belo Monte, é aceito.
O mesmo raciocínio vale para os pequenos agricultores da região. A poucas décadas atrás ou até a poucos anos atrás, os agricultores, padres, missionários, sindicalistas eram mortos em conflitos de terra. Na época eram usados pistoleiros.
Eles continuam a serem usados, mas agora foram acrescidos de tratores e caminhões, que construirão um monstro para dizimar definitivamente estas pessoas.
Assim Dilma, por favor me permita esta intimidade de referir-me a senhora sem usar os títulos, pois agora quero falar a pessoa, a mulher, a jovem que um dia estava presa e sendo torturada por pessoas absolutistas, que negavam o direito das outras, caso estas fossem contra elas.
Então Dilma, peço humildemente que olhe para as pessoas, para os índios que estão sendo oprimidos. Imploro que não deixe que construam a imensa cela que aprisionará o rio Xingú e as vidas de tantas pessoas.
Rogo que voltemos, e pensemos em projetos que sejam mais humanos.
Os recursos naturais vão se esgotar, e quando se esgotarem, nada sobrará.
Dilma, você pode ser mais que a primeira mulher a assumir o cargo mais importante do Brasil, você pode ser a pessoa que mostrará visão. Preservará a vida e a natureza e fará com que o Brasil, frente a um mundo devastado, tenha ainda seus mais preciosos tesouros. Sua grandiosa fauna e flora, a rica cultura indígena, ribeirinhos e pequenos agricultores vivendo em harmonia com a natureza e produzindo alimento tão necessário para todos nós.
Sei que a luta não é fácil, quer dizer, imagino. Pois não seu eu quem tem esta grande responsabilidade, mas você.
Mostre que uma mulher pode agir de forma diferente, do que sempre foi o poder nas mãos dos homens brancos e ricos.
Assuma isto de forma pública e tenha certeza, terá grandes e fieis defensores, assim como é o sr. Anivaldo Padilha.
Paulo Sanda é Teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo. RUAH – Desenvolvimento Integral do Ser Humano
EcoDebate, 28/06/2011
Ele me falava da grande alegria que foi ver a senhora presidente subindo a rampa do planalto, como a primeira mulher a assumir a presidência da república no Brasil.
Ele ainda se lembra vivamente da dor e da tristeza, que compartilhara com vossa excelência, quando as únicas pessoas que tinham para conversar eram uma ao outro, em suas celas vizinhas em São Paulo, na época da ditadura militar.
Ambos, vítimas de um sistema que oprimia e matava quem discordasse dele.
Foram anos difíceis de muito choro e revolta, tanto para a senhora presidente como para muitas outras pessoas, que acreditavam na liberdade.
Ainda choro e fico indignado quando ouço os relatos.
Mas vejam, as pessoas que o faziam, acreditavam estar agindo corretamente, este era o sistema, na visão delas, estavam cumprindo seu dever.
Não estou dizendo que estavam corretas, nem que o que faziam não era abusivo.
Certamente, nada pode justificar a violência e a injustiça que reinavam naquela época.
Mas o Brasil está progredindo.
As minorias estão paulatinamente conquistando seus espaços.
Tivemos um homem do povo na presidência e agora temos uma mulher.
Mas veja só.
Na época das bandeiras, que foram explorar o interior do Brasil em busca de ouro e pedras preciosas, matar índios era a coisa uma coisa tranquila, eles não eram sequer considerados gente.
Depois ainda na primeira metade do século XX, quando saiu a expedição Roncador Xingú, matava-se os índios que ameaçassem os homens dela. Mas graças a conscientização em relação aos direitos humanos, personalizada neste caso em nossos grandes sertanistas os irmãos Villas Boas, que repetiam o lema do Marechal Cândido Rondon, “Morrer se preciso for, matar jamais”, que recusavam a matança de índios. Os massacres foram contidos.
Então, não é mais aceita a matança dos indígenas, apesar que ainda acontecem.
Mas condenar milhares deles a morte, lenta e sofrida pela perda de sua cultura e seu modo de vida, para construir a usina hidroelétrica de Belo Monte, é aceito.
O mesmo raciocínio vale para os pequenos agricultores da região. A poucas décadas atrás ou até a poucos anos atrás, os agricultores, padres, missionários, sindicalistas eram mortos em conflitos de terra. Na época eram usados pistoleiros.
Eles continuam a serem usados, mas agora foram acrescidos de tratores e caminhões, que construirão um monstro para dizimar definitivamente estas pessoas.
Assim Dilma, por favor me permita esta intimidade de referir-me a senhora sem usar os títulos, pois agora quero falar a pessoa, a mulher, a jovem que um dia estava presa e sendo torturada por pessoas absolutistas, que negavam o direito das outras, caso estas fossem contra elas.
Então Dilma, peço humildemente que olhe para as pessoas, para os índios que estão sendo oprimidos. Imploro que não deixe que construam a imensa cela que aprisionará o rio Xingú e as vidas de tantas pessoas.
Rogo que voltemos, e pensemos em projetos que sejam mais humanos.
Os recursos naturais vão se esgotar, e quando se esgotarem, nada sobrará.
Dilma, você pode ser mais que a primeira mulher a assumir o cargo mais importante do Brasil, você pode ser a pessoa que mostrará visão. Preservará a vida e a natureza e fará com que o Brasil, frente a um mundo devastado, tenha ainda seus mais preciosos tesouros. Sua grandiosa fauna e flora, a rica cultura indígena, ribeirinhos e pequenos agricultores vivendo em harmonia com a natureza e produzindo alimento tão necessário para todos nós.
Sei que a luta não é fácil, quer dizer, imagino. Pois não seu eu quem tem esta grande responsabilidade, mas você.
Mostre que uma mulher pode agir de forma diferente, do que sempre foi o poder nas mãos dos homens brancos e ricos.
Assuma isto de forma pública e tenha certeza, terá grandes e fieis defensores, assim como é o sr. Anivaldo Padilha.
Paulo Sanda é Teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo. RUAH – Desenvolvimento Integral do Ser Humano
EcoDebate, 28/06/2011
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