Jornal Desfaces nesse sábado no Café da Travessa
A proposta do jornal Dezfaces é publicar trabalhos de poetas residentes em Belo Horizonte, Minas Gerais e/ou poetas que tenham vínculo direto com a cidade (ex-residentes, residentes que vivem temporariamente em outra cidade, etc.).
O nome do jornal foi criado a partir do título do “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade. A metáfora é pertinente. Drummond, em seu poema, de sete estrofes, passeia por “sete” instantes da vida cotidiana; o Dezfaces pretende ser esse “passeio” por várias vozes da poética belo-horizontina atual.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonastes
e sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Enviada por: Convite enviado por Jovino Machado
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