100 anos de Jorge Amado

Jorge Amado com o amigo e compadre argentino, radicado na Bahia, Carybé

Por Valdeck Almeida de Jesus*

Homenagear uma pessoa após a morte é praxe no Brasil. Geralmente o talento só é reconhecido tardiamente. No caso de Jorge Amado, a homenagem no centenário de nascimento está fora da regra. O sucesso da literatura desse homem simples, nascido no interior da Bahia, supera todas as medidas usadas para os outros mortais.

Jorge Amado é sinônimo de Brasil, de Bahia, de brasilidade. Falar da obra é falar do ser humano criador; falar das personagens é identificar o falar natural das pessoas da rua, da gente que circula e inunda praças e avenidas desse grande país, que é mais interior do que capital. A presença de Jorge está nas esquinas, nos costumes, que o tempo não deixa morrer. O escritor está vivo, sempre, na vasta e diversa obra. E o tempo, senhor da vida, junto com a justiça dos orixás que protegem Jorge Amado, imortalizam a obra desse homem.

A obra de Jorge Amado dá voz e cor, imagem e alma a vivências que talvez passassem despercebidas, anônimas. Tieta do Agreste, Dona Flor e seus dois maridos, Capitães da Areia, Gabriela, Cravo e Canela e tantos outros livros imortalizam experiências de vida, oxigena as bibliotecas e presenteia a literatura universal. E Jorge é universal justamente por valorizar o local. O alquimista da língua que o povo fala e entende, pacientemente burilou e teceu, com arte própria, uma malha literária que o tornou célebre ainda em vida. Jorge Amado é uma marca, um sucesso que não precisou da morte para se tornar querido e amado.

Em se tratando de Jorge Amado, a morte simboliza apenas um novo passo, uma entrada a um portal multiplicador de vidas. Costumo dizer que os Jorges são milhares, milhões, desde que se tenha tido contato com qualquer escrito, rabisco, rascunho do grande mestre da palavra. Mia Couto, em matéria recentemente publicada na mídia da capital da Bahia, declarou que Jorge Amado foi o escritor estrangeiro mais lido na África e influenciou o surgimento de muitos escritores africanos de língua portuguesa. Esta é a verdadeira glória, que não precisa de fardões, emblemas, placas ou rótulos. A arte de Jorge já diz tudo, sozinha. As homenagens, meros protocolos, são merecidas, mas não fazem o brilho de Jorge Amado ser maior ou menor, pois o brilho deste leonino destinado ao sucesso é eterno!


*Valdeck Almeida de Jesus é jornalista, escritor, poeta e ativista cultural. Autor dos livros “Memorial do Inferno. A saga da família Almeida no Jardim do Éden”, “Feitiço contra o feiticeiro”, “30 anos de poesia”, “Valdeck é prosa e Vanise é Poesia”, “Poemas Di-versos”, “Alice no País das Maravilhas – romance gls”; participa de mais de 60 antologias poéticas e promove o Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus desde 2005, com apoio do Ministério da Cutlura e Plano Nacional do Livro e Leitura. Site www.galinhapulando.com

Fonte: A TARDE, edição de 28 de agosto de 2011, Caderno Populares, pág.6

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