O Primeiro de abril de 1964

Por Benedito Franco
betafer@oi.com.br

Quando houve a revolução de 1964, no dia primeiro de abril, eu, no Rio, ouvi tiros e mais tiros, parece-me de fuzis e canhões, pelos lados do Palácio do Governador – o Palácio Guanabara. Eu estudava logo em frente, a poucos metros do Palácio, na Rua Paissandu, e morava próximo, no Bairro do Catete.

Pela movimentação, tensão e o ambiente carregado, recomendava-se não sair de casa, mas pelo rádio, ouviam-se os gritos do Governador Carlos Lacerda, dando ordens desesperadas a seus soldados – a invasão pelo Exército era eminente. Como sempre, depois de algum tempo, houve uma trégua e um acordo, mas, pelo barulho, deve ter morrido muita gente (isso não se comenta e muito menos se divulga!).

Em um Diretório da UDN, onde filiei-me, à Rua do Catete, tive oportunidade de conhecer e falar com o Carlos Lacerda e alguns “papas” do Partido – Sandra Cavalcante entre eles.

Carlos Lacerda foi deputado federal, um dos maiores oradores que o Brasil já teve. Como Governador do Estado da Guanabara, revolucionou o Rio com suas inúmeras obras e abriu uma sala de aula para cada dia de seu governo – foi quando começaram a aparecer as escolas públicas noturnas – eram raras.

Quando as empregadas domésticas começaram a estudar à noite, muita gente achava um absurdo: - “À noite, lugar de empregada doméstica é em casa, para que as patroas descansem ou saiam para o cinema ou para suas festas!”. O Estado da Guanabara correspondia à atual cidade do Rio de Janeiro – Niterói era a capital do Estado do Rio de Janeiro.

Na Rua do Catete, perto de onde eu morava, vi a Maria Tereza, esposa do Presidente João Goulart, passar num Mercedes cinza prateado - deu um adeus para o pessoal que estava no passeio - inclusive eu.

Talvez horas depois, passou o Sr. João Goulart - mais rápido, pois deixava o Rio e o Brasil. Sério e compenetrado, deu para perceber.

Depois foram prisões, repressões e a mordaça na imprensa!... Alguns muitos anos “brabos”, como diria o mineirinho...

Em economia aprendi que revolução é apenas troca de grupos nos governos.

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