Especial: O Carnaval Carioca - Parte V

Escolas de Samba do Rio de Janeiro


Por Fernando Moura Peixoto 
(ABI 0952-C)


DO SAMBÓDROMO À INTERNET

“Sem bicho [o jogo] e bicha não há carnaval.” CARLOS IMPERIAL (1935 – 1992)

Em 1984, com o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer (1907 – 2012) e em rápida execução, inaugurou-se, no governo de Leonel Brizola (1922 – 2004), a designada ‘Passarela do Samba’ (Passarela Professor Darcy Ribeiro, 1922 – 1997), na Rua Marquês de Sapucaí. Local aparentemente definitivo – salvo especulações sobre novas mudanças que ora ou outra surgem eventualmente – para ser o palco das escolas. Logo apelidado de ‘Sambódromo’, é dotado de espaçosas e imponentes arquibancadas de concreto armado e de reversíveis camarotes que se tornam salas de aula no período letivo, em um CIEPCentro Integrado de Educação Pública. Há ainda uma gigantesca ‘Praça da Apoteose’, na qual as escolas deveriam evoluir após as apresentações. Esta ideia da ‘apoteose’, considerada inviável, foi revogada pelos próprios sambistas dois anos depois.

Na estreia da Passarela do Samba, no carnaval de 1984, deu Mangueira na cabeça, com o enredo ‘Yes, Nós Temos Braguinha’. Descontentes com a sua Associação, um grupo de dirigentes das principais organizações do samba fundou, em 24 de julho daquele ano, a Liga Independente das Escolas de Samba, LIESA, que se encarregaria dos interesses das agremiações e da preparação dos desfiles, utilizando a informática.

No vai e vem dos deslocamentos, da Praça Onze de Junho à Marquês de Sapucaí, passando pelas avenidas Rio Branco, Pres. Vargas e Pres. Antônio Carlos, os desfiles das escolas de samba transformaram-se em uma atração internacional, constituindo-se no ponto alto do carnaval brasileiro e num dos mais belos, ricos e luxuosos espetáculos visuais do mundo, em que não falta tecnologia, engenho e arte.

No entanto, o crítico e pesquisador José Ramos Tinhorão (1928 -) acha que “os sambistas cometeram um suicídio cultural. Eles, ingenuamente, acreditaram que com a participação de cenógrafos e gente da alta sociedade nas suas escolas seriam melhor aceitos. Não ficaram mais bonitos, continuam pobres e agora só participam do carnaval pelo esforço físico da caminhada e pelo trabalho braçal de empurrar carros”.

Polêmicas infindáveis à parte, estamos vivendo o décimo sexto carnaval do século 21.  Hoje temos festa, samba e desfiles transmitidos via internet para todo o planeta. Felizmente não se materializou o vaticínio do sambista Martinho da Vila feito há mais de vinte anos. Segundo o compositor e cantor de Vila Isabel, as escolas de samba, patrocinadas e oligopolizadas, iriam se apresentar nos folguedos momescos do Terceiro Milênio exibindo marcas e logotipos de produtos e empresas. Será que quem sobreviver ainda verá?




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