Especial: O Carnaval Carioca - Parte II

História do carnaval - arquivo público
Por Fernando Moura Peixoto
(ABI 0952-C)


 O CARNAVAL SE TRANSFORMA

Em 1918, funda-se o clube ‘Cordão da Bola Preta’ e, no antigo Teatro Fênix, acontece pela primeira vez o ‘Baile dos Artistas’. Em 1920, começa a sair o bloco do ‘Eu Sozinho’, constituído – como o nome diz – de um folião apenas.
Banhos de mar à fantasia realizam-se no estreito balneário do Flamengo durante os carnavais no decênio de 1920, com sucesso entre os praianos, e plateia aglomerada na mureta.

A Praça Onze, na Cidade nova, transforma-se no ponto alto dos festejos carnavalescos. Em 1926, trazidos por uma empresa estrangeira, vieram os primeiros turistas do exterior para apreciar o carnaval carioca.

Em 1929 ficam célebres as batalhas de confetes dos bondes São Januário e São Cristóvão. Nestes anos 1920 sumiram do carnaval os tradicionais e barulhentos ‘Zé Pereiras’. Após 1930 foi-se acabando o corso, em decorrência da dificuldade de aquisição de automóveis de capota arriável (caros e rarefeitos no mercado) e de problemas causados no trânsito, crescente e congestionado.



AS ESCOLAS DE SAMBA E OS DESFILES INICIAIS

Na opinião de Sérgio Cabral (1937 -), jornalista, escritor, pesquisador e divulgador da MPB, “na história das escolas de samba, os fatos, muitas vezes, misturam-se com as lendas. Isso acontece principalmente quando se quer saber quais foram os primeiros a fazer determinadas coisas. Cada um defende para si ou para o seu grupo o pioneirismo de tudo o que aconteceu e acontece com as escolas de samba”.
Em 12 de agosto de 1928, nas redondezas do bairro do Estácio de Sá, nasce a primeira ‘escola de samba’, a ‘Deixa Falar’ – na verdade, o ‘Bloco Carnavalesco Deixa Falar’; depois, ‘Rancho Carnavalesco Deixa Falar’.

Em parte originária dos ranchos, muitas outras adviriam, acentuadamente nos morros e subúrbios. A designação ‘escola de samba’, sugerida por Ismael Silva (1905 – 1978) no Estácio, seria adotada gradativamente, firmando-se a partir de 1935.
 Amigo de Villa-Lobos (1887 – 1959), o baiano José Gomes da Costa ‘Spinelli’ (1901 – 1943), conhecido também por ‘Zé Espinguela’, presidente do ‘Bloco dos Arengueiros’ – que em 30 de abril de 1929 se tornaria a ‘Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira’ – e, desde 1927, realizador de encontros musicais de sambistas no Engenho de Dentro - em um terreiro de macumba de sua propriedade - promoveria em 1930 o primeiro desfile público das ‘escolas de samba’, num local ao lado de um armarinho que ficava entre a Cervejaria Brahma e a Praça Onze. Venceu a Mangueira, com o enredo ‘Baianinha de São Salvador’.

Em 9 de fevereiro de 1932, domingo de carnaval, o jornal ‘Mundo Esportivo’ – dirigido por Milton Rodrigues (1905 – 1972), em sua redação militavam diversos jornalistas ligados diretamente à música popular brasileira, como Orestes Barbosa (1893 – 1966),  Antônio Nássara (1910 – 1996) e Armando de Lima Reis (1910 – 1983) – bancava o certame, divulgando amplamente o evento por toda a imprensa. Eram dezenove as ‘escolas’ concorrentes, reunidas na Praça Onze pelo repórter Carlos Pimentel (s/d).  Ganhou outra vez a Mangueira, sob o entrecho ‘Sorrindo’.
Em 1933, o patrocínio coube a ‘O Globo’ (nova vitória da Mangueira, com o tema ‘Uma Segunda-Feira no Bonfim’); em 1934, ao jornal ‘A Hora’ (deu ‘Recreio de Ramos’, com ‘Brasil, Legião de Estrangeiros’); em 1935, ao jornal ‘A Nação’ (venceu a ‘Vai Como Pode’, hoje Portela, apresentando ‘O Samba Dominando o Mundo’). Em 1934 formara-se a ‘União Geral das Escolas de Samba’UGES, o primeiro órgão de classe dos sambistas. Em 1935, o prefeito do então Distrito Federal, Pedro Ernesto (1884 – 1942), oficializou os desfiles e tornou obrigatória a utilização de uma temática nacional nos enredos das escolas.

A jornalista e pesquisadora, Dulce Tupy (1948 -) afirma que “o êxtase das escolas de samba só virá, de fato, muito mais tarde. Se o rádio foi o veículo de afirmação do sambista prestes a se profissionalizar, a escola de samba foi a trincheira onde o negro se defendia de sua situação marginal. No momento em que a sociedade brasileira fazia uma revisão de seus valores políticos/culturais, a escola de samba estava apta  a revelar um universo preservado pela comunidade negra desde o período colonial”.




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