Os rumos da crise na América Latina serão discutidos durante as Jornadas Bolivarianas em abril na Universidade de Santa Catarina

por Elaine Tavares

A América Latina viveu no inicio do século XXI novo período histórico que podemos qualificar de “consenso nacional popular”. A partir do ano de 1998, com a eleição de Hugo Chávez para a presidência da Venezuela, novas propostas políticas e econômicas começaram a surgir. A experiência conhecida como “bolivariana” permitiu a emergência do novo constitucionalismo jurídico na América Latina, nova configuração do estado-nacional, redefinição da correlação de forças no interior das nações, afirmação e ampliação de direitos sociais, reorientação da política externa e nova política econômica, entre outras. Na mesma direção, governos de orientação progressista foram eleitos em diversos países (Brasil, Argentina, Uruguai, etc.,) que também orientaram as decisões de estado na direção oposta àquelas aplicada nos tempos do neoliberalismo e, no cenário continental, sugeriam que mudanças estratégicas e estruturais estavam sendo tomadas na América Latina.

Após quase duas décadas de mudanças, o cenário parece inclinar-se novamente na direção oposta: há evidentes sinais de esgotamento do “consenso nacional popular” que vingou até pouco tempo e o pêndulo latino-americano agora, inclina-se, novamente, na direção conservadora. Este movimento conta também com importante apoio da população, razão pela qual os processos eleitorais que até bem pouco tempo apenas confirmavam a posição soberana da “esquerda”, expressam a emergência de governos conservadores mais ou menos afinados com o antigo ideário neoliberal. Em resumo, o continente vive um novo momento no qual o antigo “consenso nacional-popular” é incapaz de representar os interesses das maiorias e pouco eficaz para conter os interesses dominantes que sempre comandaram os estados nacionais. Assim, consideramos que vivemos um novo período da vida política, social e cultural no continente que ainda não assumiu perfil definido, mas, certamente, cobrará melhor definição nos próximos anos.

O estado-nacional está uma vez mais em disputa sob nova condições. 

O esforço teórico para identificar e, sobretudo, prever os desdobramentos da evolução recente do estado e da economia na América Latina, captar as principais contradições e antagonismos da conjuntura, elucidar o dinamismo da crise com suas possibilidades e limites, exigirá das ciências sociais notável protagonismo. Portanto, o evento que organizamos assume completa relevância no momento em que distintas organizações sociais (empresariais, sindicais, partidárias e sociais) revelam escassa capacidade de análise, fato que abre novas exigências sobre a universidade e autorizam ambição intelectual aos acadêmicos.

Nossa pretensão nessas jornadas de abril é dupla. De um lado, a elaboração de diagnóstico sobre a dinâmica geral da crise e seus possíveis desdobramentos em termos econômicos, políticos e sociais; de outro, a elaboração de reflexão sistemática para as organizações sociais (movimentos, partidos políticos, sindicatos, parlamentares, etc.,) a partir de uma tradição que acumulamos na última década de existência do IELA-UFSC, a saber, o pensamento crítico latino-americano.

Assim, por conta desse quadro é que identificamos a necessidade de refletir o novo momento vivido pelo continente, para compreender quais são os caminhos que se configuram para os governos e os povos da América Latina e Caribe. A XII edição das Jornadas Bolivarianas contará com a presença de intelectuais de grande prestígio nas ciências sociais da região e com projeção mundial. Já estão confirmados Heinz Dieterich (Universidad Autónoma Metroplitana - México), Mabel Thwaites Rey (Instituto de Estudos da América Latina e Caribe da UBA - Argentina), John Mário (Universidad Nacional de Colómbia), Jorge Almeida (UFBA) do Brasil e Cláudio Katz (Universidade de Buenos Aires – Argentina). Também virão intelectuais do Equador, Cuba, Bolívia e Venezuela.

Veja a convocatória para apresentação de trabalhos 

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