Carnaval, memória, invenção e alegria!

Iara Abreu, pintura realizada no projeto Pintando ao Vivo em Contagem, no pré-carnaval de 2014

Por Adriana Borges
conselheira do Imersão Latina

Carnaval - samba no pé, bloco, marchinhas, maracatu, frexo, axé, eu topo tudo que vier. É a festa da música, da alegria, de gente que gosta de viver, de se alegrar, de brincar, de se recolher. Sim, há quem goste do carnaval só por conta do feriado mesmo, para poder viajar, curtir uma folga e ficar bem longe da multidão. Eu gosto de carnaval desde criança. Já pulei em clubes, passei na praia, pulei em cidades históricas e fui até para Olinda. Mas também já fiquei quieta em casa, vendo os desfiles de carnaval, já passei acampada na Serra do Cipó, bem longe da festa.

Mas minha paixão por esta festa brasileira nunca acaba. O carnaval é o ponto alto da cultura brasileira. É essa alegria fantasiada que a gente conhece desde criança e não tem como não admirar. O carnaval é a nossa festa da Esperança. É essa celebração mais sincera dos nossos costumes mais ancestrais, de como aprendemos a ser felizes, através do batuque, da música, da dança, do resgate da nossa história, da valorização do nosso povo e dos seus talentos. O carnaval é a festa da criatividade, do luxo, do requinte, do alegórico, do engraçado, da fantasia. É nossa hora de brincar de ser feliz, de tirar e colocar outras máscaras e cair na folia, sem nenhuma inibição. A gente até samba sem saber, se alegra sem saber porquê, e segue em frente, que essa alegria sem motivo é necessária para dar conta da vida.

O Brasil nasceu assim rindo para ficar contente. E a gente brinca para tirar alegria da tristeza, ou melhor, transformar o lamento em redenção. Sem o carnaval o nosso povo não teria uma identidade tão marcada pela alegria. Mas não é só isso. O brasileiro é forte, é bravo, é guerreiro, e mesmo com todos os problemas que enfrenta sabe sorrir e dar a volta por cima. O carnaval é isso. É a nossa capacidade de lutar para transformar sonhos em realidade. É nossa firmeza no chão, na luta, no trabalho, no dia-a-dia, mas movido, motivado pelo sonho que um dia será melhor. Do barracão de favela saem as fantasias e alegorias mais lindas e suntuosas, cuidadosamente confeccionadas por muita gente humilde, batalhadora, que vive sem nenhum luxo.

Fazer este carnaval acontecer na Avenida, na Marques de Sapucaí, é viver a realização de um sonho de grandeza, de superação, que só o samba faz, que só uma escola traz. Se o carnaval é a grande festa brasileira é porque precisamos de festa, apesar da tristeza. A nossa real alegria não é simplesmente espontânea, nascida de uma alegria sem motivo apenas. Ela passa, intensamente, pela experiência da tristeza, das perdas, das faltas, dos abandonos, dos descasos, de que a maioria da população sente e se ressente a todo momento.

 A nossa alegria é fruto da nossa luta, de tirar forças das tripas, do fundo do coração, de onde a gente nem sabe para poder seguir em frente. Porque não aceitamos a tristeza como nossa marca. Somos felizes sim, no carnaval, por alguns dias, e em mais outros 300 sim, durante todo o ano, quando reunimos nossas energias para trabalhar por um novo enredo, para começar tudo de novo, a cada instante, com toda a esperança de que temos direito. Somos felizes sim porque nossa natureza é resistir. Uma das coisas mais bonitas do carnaval brasileiro é a valorização da nossa História, da nossa cultura e da nossa gente, que as escolas de samba do Rio de Janeiro e de outros Estados trazem.

Acho comovente e muito digno, que a nossa alma seja preservada justamente pela invenção e a genialidade das pessoas mais simples, dos carnvalescos das escolas de samba, pelos músicos, mulheres e crianças das vilas e favelas. E são sambas-enredos lindos que conduzem essa festa maravilhosa, cheios de força, ritmo e energia. Essa festa que é única, é nossa, amada e admirada pelo mundo inteiro é um show de vida! Salve o Brasil! Que o carnaval nunca foi um atraso de vida para gente!

 Minha opinião, simples e singela, é que precisamos do carnaval! Sem ele, não teríamos tanta esperança e tanta força para seguir em frente. Depois de tantos tropeços, de tanta malandragem que vem lá de cima, da classe do luxo sem luta, precisamos de ter alguma alegria, de tomar uma e se divertir. Senão ninguém aguenta. É como o nosso grande poeta Chico Buarque de Holanda canta: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia!”. É por ai... Precisamos cantar, sambar e espantar a tristeza porque a nossa felicidade é uma construção, uma invenção, é o nosso jeitinho brasileiro de enfrentar a vida!

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