Ferreira Gullar estará hoje no Terças Poéticas do Palácio das Artes
Ferreira Gullar, um dos mais influentes poeta brasileiro, vencedor do Prêmio Camões 2010, autor de livros antológicos como Poema Sujo, Dentro da Noite Veloz, Barulhos e Rabo de Foguete, estará nesta terça-feira, dia 8 de junho participando do projeto Terças Poéticas. Prestigiem!
Local : Palácio das Artes
Local : Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1537, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil)
Horário : 18:30 horas
Entrada franca
Prêmio Camões 2010 - O escritor natural do Maranhão foi o nono brasileiro a ganhar o prestigiado galardão literário da lusofonia, também já atribuído a nove portugueses, dois angolanos, um moçambicano e um cabo-verdiano.
Horário : 18:30 horas
Entrada franca
Prêmio Camões 2010 - O escritor natural do Maranhão foi o nono brasileiro a ganhar o prestigiado galardão literário da lusofonia, também já atribuído a nove portugueses, dois angolanos, um moçambicano e um cabo-verdiano.
A vida bate
(Ferreira Gullar)
Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
Alguns viajam, vão
a Nova York, a Santiago
do Chile. Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega, detrás
de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem
e há os que se perdem por te achar,
ó desatino
ó verdade, ó fome
de vida!
O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade
sob as nuvens e entre as águas azuis.
A cidade. Vista do alto
ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
como se estivesse pronta.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro
sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas . És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.
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