Dilma Rousseff é a terceira mulher eleita presidente na América do Sul
Por Brenda Marques,
Presidente do Imersão Latina, com Foto de Ursula Bahia e depoimento de Aline Cântia.
Hoje é um dia histórico para o Brasil, pela primeira vez, uma mulher é eleita presidente no país. Na América do Sul, antes de Dilma chegaram à presidência via eleições diretas Michelle Bachelet, no Chile, em 2006 e Cristina Kirchner, na Argentina, em 2007.
Durante as eleições, nós do Instituto Imersão Latina (IMEL) mantivemos a isenção quanto ao posicionamento político-partidário, para não entrar na campanha de nenhum candidato, mas agora, com o resultado das eleições, postamos comentário sobre a política que estava sendo adotado pelo Governo do PT, com Lula e que Dilma assume como continuidade.
Sabemos da importância da população de se envolver neste processo e da real necessidade de mobilização social para realmente construirmos um novo país, mas não podemos deixar de admitir os avanços do último governo nas áreas da cultura e do desenvolvimento social. Portanto, neste momento, estamos contentes por saber, que ao menos o diálogo com a população continuará e juntos poderemos contribuir para que a primeira mulher eleita presidente no Brasil, por voto direto, faça um bom governo. Cabe a cada um de nós brasileiros nos conscientizarmos e participarmos agindo diariamente, criticando, debatendo e apoiando no que for preciso.
Abaixo, postamos um depoimento de Aline Cântia, baseado nas vivências dela como contadora de histórias por este Brasil afora.
Bom, gente... desculpem, mas vou contar uma história... enquanto uma transeunte pelos sertões deste país, ouvindo e contando histórias...Quando fui a primeira vez há 10 anos, em uma comunidade quilombola onde moravam 5 mil pessoas... eles tinham uma escola caindo aos pedaços... e a professora bebia tanto que não ia. Eu então fiquei lá sete meses... tentando cumprir algum papel por aquela gente. Quantas crianças morreram de catapora nestes meses...
Desde então, volto lá ano a ano. Já são 32 escolas, todas de alvenaria, professores qualificados concursados, material didático específico para a cultura quilombola. Agentes de saúde, ambulância em cada uma dos 32 povoados que constituem a comunidade. Tudo começou com a Bolsa Família, é verdade. Medida emergencial. A partir daí, veio o Luz pra Todos, vieram as capacitações para formação de cooperativas, vieram as formações de gestão para que o doce de buriti, o licor de babaçu, a farinha de mandioca... se transformassem em renda.
O Juraci, agente de saúde, me disse ano passado que não precisa mais da bolsa família. Conseguiu terminar o segundo grau (com ônibus gratuito que o levava e buscava todos à noite) e entrou na faculdade de enfermagem pelo Pro-Uni. Quando eu o conheci, ele não sabia ler nem escrever. Trabalhava na drenagem de areia (agora proibido de entrar nos rios da comunidade), ganhando 02 reais por dia.
Enfim... pra mim, nestes últimos 8 anos... além da redução da pobreza, promoveu-se a inclusão de milhares de brasileiros, geração de renda e de emprego, cresceu a auto-estima do brasileiro. Como a construção é humana e, por isso mesmo, imperfeita, e como ela é erguida sobre um passado que nao se pode apagar antes de recomeçar, não é dificil perceber que muitos erros continuam sendo cometidos, alguns erros novos e outros antigos que ainda nao se conseguiu mudar. Mas, acima disso acredito que estão os ideais de gente do bem, que mata um leão por dia pra que as coisas avancem, pra que as pessoas mais humildes tenham acesso a tudo aquilo que lhes é negado em um economia controlada totalmente pelo mercado, como a nossa.
*Aline Cântia é conselheira do Imersão Latina. Jornalista, mestre em Literatura e contadora de histórias. Foi uma das contempladas com Prêmio Funarte de Circulação Literária este ano.
Foto: Dilma por Ursula Bahia, também integrante do IMEL tirada durante o Fórum Social Mundial em Belém, 2009.
Comentários