Conheça o projeto Ingerindo Histórias


Por Ana Paula de Oliveira*

“Muitas vezes a pessoa diz: - Eu não sei contar histórias. Ao final, quando gargalhamos juntos, eu pergunto: Então, o que é isso que acabamos de fazer agora?”

Situações como essa dão sinais do poder transformador que tem uma história. E, foi acreditando nisso, ao passo que se aprofundava nesse universo, que o contador de histórias Alexandre Semeraro, idealizou o projeto Ingerindo Histórias, em Fortaleza (CE). Contador desde a infância, quando costumava narrar histórias lidas nos livros, Alexandre considera que essa prática sempre o acompanhou. Andersen, Grim, Perrault faziam parte do repertório de sua vida. Formado em Psicologia, Alexandre trabalha no Caps (Centros de Atenção Psicossocial), em Fortaleza.

O principal o objetivo do projeto idealizado por ele é incentivar a prática de leitura a partir de contadores de histórias, o projeto é pioneiro no serviço de saúde mental.
Contemplado no II Edital das Artes de 2008, da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), o projeto é voltado para pessoas com idade a partir de 16 anos, atendidas pelos Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Outras Drogas (Caps – AD).

O Ingerindo Histórias acontece em 16 bairros periféricos da capital, e conta com a participação da comunidade e cerca de 10 contadores de histórias. Acesso à oficinas, cine narrativo, livrarias participantes, atividades culturais fazem parte da proposta, assim como a participação de outros narradores e grupos como a Cia Catirina, o contador Marcos Melo, Ioiô de Histórias e Banquete de Histórias.

Para Semeraro, identificar as mudanças na vida dos participantes ainda é algo difuso. “Não há uma verdade. O que posso dizer é que nesses quatro anos de formação específica nesse serviço junto ao Caps eu percebo indícios. Muitas vezes, eles relatam não conseguir se envolver num processo há muito tempo”, explica. Segundo o psicólogo, a pessoa em situação de dependência se encontra numa fase da vida que se assemelha a um disco arranhado. “A pessoa não consegue sair daquela faixa e realizar significações. Muitas vezes, ela procura realizar esse processo aumentando a dose”, observa. Nessa hora, as histórias tornam-se grandes aliadas. “É como se a história quebrasse esse disco, produzindo outros movimentos. Mas, sabemos que é preciso algo intenso, que instigue a pessoa no sentido de sua existência”, comenta.

Essa simbiose acaba por auxiliar no processo de recuperação não só dos dependentes. Uma vez aberto ao público em geral, o Ingerindo Histórias viabiliza a interação, muitas vezes rompida por se tratar de pessoas colocadas à margem pela sociedade. “Percebo que quando recontamos uma história, ainda que se mantenha seu fio narrativo, algo nosso é veiculado junto. Não é nem a história pura, nem a história de vida. Como se fosse uma terceira margem do rio”, conta.
Sobre o Caps

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são instituições brasileiras que visam à substituição dos hospitais psiquiátricos - antigos hospícios ou manicômios - e de seus métodos para cuidar de afecções psiquiátricas. Foram instituídos juntamente com os Núcleos de Assistência Psicossocial (Naps), pela Portaria/SNAS Nº 224 - 29 de Janeiro de 1992. O Caps-AD integra a Rede Assistencial de Saúde Mental, que começou a ser implantada pela Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza em agosto de 2005.


Desde então, o número de Centros de Atenção Psicossocial foi ampliado de três para 14. Cada Secretaria Executiva Regional possui um Caps Álcool e Drogas. As Regionais III e IV também têm Caps infantil. Os principais objetivos da Rede Assistencial de Saúde Mental são substituir a internação em hospital psiquiátrico e promover a reinserção das pessoas com transtornos psíquicos na sociedade.

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