O perfume de Sândalo na obra de Neuza Ladeira



Por Jurandir Persichini Cunha*


Permita-nos uma licença poética para iniciar nosso comentário sobre a arte de Neuza Ladeira citando uma expressão, passível até de ser considerada clichê, porém cunhada por poeta onírico, onde vislumbramos verossimilhança a um sândalo: O sândalo perfuma o machado que o fere! O sândalo traz proteção e aumenta o poder da concentração.

E vamos encontrar na obra de Neuza uma personificação semântica e tautócrona: perfumada e verdadeira. E, ao mesmo tempo, dedicada e melíflua como um anjinho barroco, ou uma penugem de um passarinho. Com seus gestos largos e fala gutural, porém firme e cativante, ela nos conduz em suas obras a um cenário de pensamentos que refletem uma essência de luz e revela toda a sua intimidade, principalmente quando utiliza o instrumento do inconsciente ofertado através das buscas memoriais como a abordagem simbólica, ideológica, ou na contra-mão e resistência das revelações falsamente tonitruantes.
Sensível e imaginativa, dona de um temperamento escancarado de encanto, ela age como uma antena sensível que capta sentimentos e se insinua pronta para se incorporar espírito de uma fantasia libertária. Tudo isso como fruto de introspecção no inóculo rigor dos pesados coturnos que lhe surrupiaram a liberdade, mas não conseguiram aprisionar sua poesia singular.

Dissecando a obra de Neuza Ladeira não vejo, vez nenhuma, qualquer hermetismo nos seus trabalhos, seja na pintura, desenho ou poesia. Apenas deixo um alerta: Para entender Neuza Ladeira, temos que ter o saudável exercício do pensamento e da interpretação para saber encontrar e saber ler na estrutura desenhada pelos seus pincéis e tudo mais que é desfilado ao meio dos lírios, dos campos e dos guaches traduzidos como os pilares de sua obra refletidos pelo figurativo e pelo expressionismo retornam o significado de um instrumento de investigação do sentido íntimo, primacial, do universo.

Em sua manifestação artística está reproduzindo todo o conteúdo emocional e as reações subjetivas que exercem forte domínio sobre o convencionalismo e a razão. Além de tudo - pelo inconsciente coletivo. E nada é por acaso. Cada traço, risco ou matiz/matriz de sua obra nos conduz a uma rede emaranhada de lembranças que nos chegam livres da reminiscência amargurada.

Não podemos ter preguiça para entender o que ela nos apresenta recondidamente. Em gotas ou em goles, seu pensamento nos chega baseado em que um dia Jung afirmou ser a estrutura da forma e que consiste em ser componente da psique, presente nela desde o nascimento, e nos chega a uma hipótese verdadeira e refinada – a existência de um substrato desconhecido de nós pobres mortais. A expressão barroca de Neuza Ladeira é pura poesia ressoante no sabor amargo e escarlate da resistência e que hoje nos chega doce e sem ressentimentos da crueldade que um dia lhe atingiu...

*Jornalista, poeta e crítico bissexto nascido em Amparo da Serra – MG. Anistiado político
Publicado em: http://www.neuzaladeira.com.br/


Exposição Primavera Ambivalente da artista Neuza Ladeira


Local: Cozinha de Minas
(Rua Gonçalves Dias, 45 Funcionários – Belo Horizonte/Minas Gerais)

De 21/09 a 11/10/2008

Abertura: 21 de setembro às 14hs

Em breve divulgaremos as atrações do Recital Poético.

Brenda Marques Pena
Jornalista Presidente do Imersão Latina

http://www.imersaolatina.com/
http://www.imersaolatina.blogspot.com/

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