FST 2014: Fórum Social Temático discute a necessidade de adotar outras metas além dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Por Vânia Correa
Ciranda
O biênio 2014 e 2015 será fundamental para determinar o futuro do planeta. O debate mundial que se realizará neste período culminará na aprovação de novas metas a serem adotadas pelos Estados -membros das Nações Unidas em substituição aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
De acordo com Damien Hazard, diretor executivo da Abong, apesar de alguns avanços, especialmente, na queda da mortalidade infantil, no enfrentamento à aids e outras doenças, na melhoria do acesso a água potável e diminuição da fome, os ODMs, além de não terem sido plenamente alcançados, merecem críticas por serem pouco audaciosos e representarem retrocesso em relação a metas indicadas em conferências internacionais, como a ECO 92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento).
Tendo consciência de que o processo de definição dos Objetivos do Milênio foi frágil e pouco participativo, a ONU está organizando uma série de consultas sobre a agenda pós-2015. Ao todo foram realizadas 88 consultas gerais, 11 temáticas, além das diversas consultas on line. No entanto, além das oficiais, organizações da sociedade civil, como a Abong, realizaram seus próprios processos de escuta e sistematização sobre os principais pontos para as metas que substituirão os ODM.
Para os convidados do debate “Crise capitalista e agenda pós 2015”, realizado na tarde de quarta-feira pela Abong, na URGS, integrante da programação do Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre entre 21 e 26 de janeiro, a agenda de desenvolvimento só será eficiente se levar em conta a crise sistêmica por que passa o capitalismo.
Hazard enfatizou a necessidade da participação articulada da sociedade civil, aliada a governos progressistas, para apontar as causas estruturais das desigualdades e propor saídas realmente transformadoras. “A sociedade civil pode contribuir para ampliar a concepção de desenvolvimento, convencer os governos de que há causas estruturais para a desigualdades. Precisamos agir de forma rápida e articulada para incidir neste processo, caso contrário o mundo que queremos continuará muito distante”, alertou.
O debate contou ainda com as presenças do francês Bernard Cassen, um dos percursores do FSM; Gilberto Leal, da Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN; Heba Khalil, do Egyphan Center for Economic&Social Rights; Miguel Santibañez, presidente da ACCIÓN – Asociación chilena de ONG.
Cassen relembrou que o Fórum Social Mundial foi criado como um contraponto ao Fórum Mundial de Davos, onde se reúne a elite política e econômica do mundo para discutir questões globais. Desde então, o FSM acontece simultaneamente ao Fórum de Davos.
Na sua 44ª edição, Davos discutirá um relatório produzido por mais de cem especialistas que aponta para cinco crises vivenciadas no mundo contemporâneo: a econômica e financeira; climática; nuclear; geopolítica, tecnológica e a social. Para Cassen o relatório relata problemas que têm sido denunciado pelos movimentos sociais há anos. “O relatório deles poderia ter sido escrito por nós. O que é novo para eles, mas não para nós, é que essas crises estão interconectadas. Há anos falamos que a crise que começou em 2008 não é somente uma crise financeira, mas uma crise sistêmica do capitalismo. Parece muito óbvio para nós, mas para eles não era”, observou.
Se o diagnóstico dos fóruns é o mesmo, as saídas propostas para estancar a crise são totalmente distintas. A busca de soluções pontuais, que visam apenas reformar o modelo capitalista, não serão capazes de enfrentar os dilemas porque passa o mundo, é o que acredita Cassen. “As respostas terapêuticas que eles anunciam [em Davos] são ridículas. Eles não querem se perguntar sobre as raízes, que estão no capitalismo. Afinal eles são os principais atores do sistema”.
Também para Khalil a ideia de fazer “ajustes” ao capitalismo é ineficaz. “Construir essa agenda [pós 2015] com a ideia de que só precisamos afixar novos pontos neste modelo e não substituí-lo é muio perigoso”. Para ela falta uma escuta real do que os movimentos sociais vêm denunciando. “Eles dizem que precisamos ser incluídos nesta agenda, mas não parecem interessados no que estamos discutindo aqui.”
A profunda desigualdade racial, responsável pela morte, empobrecimento e discriminação de grande parte da população mundial deve ser um dos temas centrais de uma agenda de desenvolvimento para o planeta. Para Leal, a superação das injustiças promovidas pelo modelo capitalista só será possível com o fim do racismo. Criticou a “timidez” dos ODMs em relação a pauta racial e a importância de que o tema seja tratado nas metas que os substituirão. ”Não haverá agenda que seja eficiente, seja da sociedade civil, seja dos governos, se não considerar a superação das desigualdades raciais.”
Santibañez alertou para a hegemonia do complexo financeiro e bancário, que captura outros setores, como o industrial, para enquadrá-los na sua lógica de financeirização, associando um valor de mercado para além do valor real “das coisas”. Considera que a mobilização social é a única forma de fortalecer e ampliar a incidência da sociedade civil no processo de construção da agenda pós 2015. “Se não há mobilização social, não há mudanças”, concluiu.
A participação social na construção de proposições para esta agenda ainda é muito frágil. Os principais obstáculos para a mobilização da sociedade civil são a falta de recurso; pouco conhecimento do processo e a falta de confiança de que a será ouvida nas discussões da ONU. Mas para Hazard ainda há tempo de se envolver e incidir sobre as decisões. “Os próprios governos estão despreparados para esse debate, poucos países estão apropriados dessa pauta ou estão atrasados. É por isso que a sociedade civil pode influenciar esse processo. Nesse sentido, é fundamental entrarmos para defender nossas pautas”.
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Fonte: http://www.agenciajovem.org/wp/?p=18713
Tendo consciência de que o processo de definição dos Objetivos do Milênio foi frágil e pouco participativo, a ONU está organizando uma série de consultas sobre a agenda pós-2015. Ao todo foram realizadas 88 consultas gerais, 11 temáticas, além das diversas consultas on line. No entanto, além das oficiais, organizações da sociedade civil, como a Abong, realizaram seus próprios processos de escuta e sistematização sobre os principais pontos para as metas que substituirão os ODM.
Para os convidados do debate “Crise capitalista e agenda pós 2015”, realizado na tarde de quarta-feira pela Abong, na URGS, integrante da programação do Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre entre 21 e 26 de janeiro, a agenda de desenvolvimento só será eficiente se levar em conta a crise sistêmica por que passa o capitalismo.
Hazard enfatizou a necessidade da participação articulada da sociedade civil, aliada a governos progressistas, para apontar as causas estruturais das desigualdades e propor saídas realmente transformadoras. “A sociedade civil pode contribuir para ampliar a concepção de desenvolvimento, convencer os governos de que há causas estruturais para a desigualdades. Precisamos agir de forma rápida e articulada para incidir neste processo, caso contrário o mundo que queremos continuará muito distante”, alertou.
O debate contou ainda com as presenças do francês Bernard Cassen, um dos percursores do FSM; Gilberto Leal, da Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN; Heba Khalil, do Egyphan Center for Economic&Social Rights; Miguel Santibañez, presidente da ACCIÓN – Asociación chilena de ONG.
Cassen relembrou que o Fórum Social Mundial foi criado como um contraponto ao Fórum Mundial de Davos, onde se reúne a elite política e econômica do mundo para discutir questões globais. Desde então, o FSM acontece simultaneamente ao Fórum de Davos.
Na sua 44ª edição, Davos discutirá um relatório produzido por mais de cem especialistas que aponta para cinco crises vivenciadas no mundo contemporâneo: a econômica e financeira; climática; nuclear; geopolítica, tecnológica e a social. Para Cassen o relatório relata problemas que têm sido denunciado pelos movimentos sociais há anos. “O relatório deles poderia ter sido escrito por nós. O que é novo para eles, mas não para nós, é que essas crises estão interconectadas. Há anos falamos que a crise que começou em 2008 não é somente uma crise financeira, mas uma crise sistêmica do capitalismo. Parece muito óbvio para nós, mas para eles não era”, observou.
Se o diagnóstico dos fóruns é o mesmo, as saídas propostas para estancar a crise são totalmente distintas. A busca de soluções pontuais, que visam apenas reformar o modelo capitalista, não serão capazes de enfrentar os dilemas porque passa o mundo, é o que acredita Cassen. “As respostas terapêuticas que eles anunciam [em Davos] são ridículas. Eles não querem se perguntar sobre as raízes, que estão no capitalismo. Afinal eles são os principais atores do sistema”.
Também para Khalil a ideia de fazer “ajustes” ao capitalismo é ineficaz. “Construir essa agenda [pós 2015] com a ideia de que só precisamos afixar novos pontos neste modelo e não substituí-lo é muio perigoso”. Para ela falta uma escuta real do que os movimentos sociais vêm denunciando. “Eles dizem que precisamos ser incluídos nesta agenda, mas não parecem interessados no que estamos discutindo aqui.”
A profunda desigualdade racial, responsável pela morte, empobrecimento e discriminação de grande parte da população mundial deve ser um dos temas centrais de uma agenda de desenvolvimento para o planeta. Para Leal, a superação das injustiças promovidas pelo modelo capitalista só será possível com o fim do racismo. Criticou a “timidez” dos ODMs em relação a pauta racial e a importância de que o tema seja tratado nas metas que os substituirão. ”Não haverá agenda que seja eficiente, seja da sociedade civil, seja dos governos, se não considerar a superação das desigualdades raciais.”
Santibañez alertou para a hegemonia do complexo financeiro e bancário, que captura outros setores, como o industrial, para enquadrá-los na sua lógica de financeirização, associando um valor de mercado para além do valor real “das coisas”. Considera que a mobilização social é a única forma de fortalecer e ampliar a incidência da sociedade civil no processo de construção da agenda pós 2015. “Se não há mobilização social, não há mudanças”, concluiu.
A participação social na construção de proposições para esta agenda ainda é muito frágil. Os principais obstáculos para a mobilização da sociedade civil são a falta de recurso; pouco conhecimento do processo e a falta de confiança de que a será ouvida nas discussões da ONU. Mas para Hazard ainda há tempo de se envolver e incidir sobre as decisões. “Os próprios governos estão despreparados para esse debate, poucos países estão apropriados dessa pauta ou estão atrasados. É por isso que a sociedade civil pode influenciar esse processo. Nesse sentido, é fundamental entrarmos para defender nossas pautas”.
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Fonte: http://www.agenciajovem.org/wp/?p=18713
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