Cinzas...


Por Airton Reis*

Quarta feira de um samba enredo inacabado. Fim de um reinado anual. Fim de uma folia nac
ional. Momo recolhido. Momo resguardado. Sapucaí silenciosa. Sapucaí esvaziada. Bateria recuada. Bateria sem madrinha. Alegoria desmontada. Alegoria de um Carnaval. Cinzas de curta duração. Cinzas de larga utilidade. Cinzas de uma fantasia bordada em barracão. Cinzas de um cinegrafista alvejado por rojão. Cinzas de uma Passarela em bis e refrão. Cinzas de uma Cidade Maravilhosa. Cinzas em verso. Cinzas em prosa.

Cinzeiros, braseiros e borralhos. Alhos e bugalhos. Desvios e atalhos. Rotas de uma fuga em vão. Cinzas dos chacinados em mais de um rincão. Cinzas dos assassinados a luz do dia. Cinzas dos excluídos de qualquer cidadania. Cinzas dos finados sem qualquer defensor. Cinzas dos executados sem nenhuma defensoria.  Cinzas dos desvalidos pela democracia.

Nas cinzas, a violência desmedida e desenfreada. Nas cinzas, a banalização da baderna reincidente e mascarada. Nas cinzas, as páginas amareladas de uma Pátria idolatrada em cantos mil. Nas cinzas, as asas de uma fênix chamada Brasil. Nas cinzas, o verbo renascer conjugado no tempo presente. Nas cinzas, as obrigações elencadas. Nas cinzas, as regiões distanciadas. Nas cinzas, as encostas soterradas. Nas cinzas, as moradias improvisadas.

Educar por Princípio. Moralizar por Precisão. Assegurar a Justiça. Aprimorar a Legislação. Efetivar Direitos. Cumprir Deveres. Valorar a Constituição. Pão é pão! Circo é circo! E a governabilidade em questão? Representação política ou encenação teatral? Pacto federativo ou Poder central? Protagonista popular ou figurantes no Congresso Nacional? Promessas ao vento ou acomodação ministerial? Dúvida permanente ou certeza passageira? Caçarola ou frigideira?

Quem vem lá? Quem permanece? Quem entra? Quem sai? Quem leva? Quem traz? Quem acrescenta? Quem representa? Quem a clareza? Quem a escuridão? Quem o candidato? Quem o eleitorado? Quem o deputado? Quem o senador? Quem o presidente? Quem o governador? As cinzas, no corolário das urnas, nos dirão quem serão os postulantes eleitos na hora do voto certeiro. As cinzas, no corolário das urnas, nos revelarão quem seremos nós enquanto povo brasileiro. As cinzas, no corolário das urnas, nos tornarão a extensão do emergencial, do justo e do verdadeiro.

*Airton Reis, professor, poeta, embaixador da paz, vice-governador da Associação Internacional Poetas Del Mundo – Mato Grosso.
e-mail: airtonreis.poeta@gmail.com

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