Subimperialismo, crise e migrações na América Latina
Roberta Traspadini*
Existem vários motivos que explicam as migrações. Com o foco nos sujeitos pertencentes à classe que vive do trabalho, um dos principais motivos da saída de seu território, é a falta de expectativa de inclusão no mercado de trabalho local e o aparente, ora real, ora irreal, sonho de inclusão em um local distante.
Existem vários motivos que explicam as migrações. Com o foco nos sujeitos pertencentes à classe que vive do trabalho, um dos principais motivos da saída de seu território, é a falta de expectativa de inclusão no mercado de trabalho local e o aparente, ora real, ora irreal, sonho de inclusão em um local distante.
Esse motivo tem uma relação direta com o mundo da sobrevivência, logo, define, em primeira mão, não o desejo de sair do lugar de origem, mas sim a necessidade de fazê-lo dada a realidade cotidiana da exclusão-opressão sofrida em seu país.Essa migração forçada pelo mundo da necessidade é um tipo de exílio. O exilado vive sempre entre o que deseja e o que realmente pode ter, a partir do poder do outro sobre ele.
O migrante latino depende da política subimperialista exercida no continente. O subimperialismo se define pela capacidade dos Estados mais fortes ditarem as regras aos Estados mais débeis, para que estes reproduzam a mesma política opressora do capital contra o trabalho em território nacional. As migrações são fruto, em grande parte, da falta de perspectiva dos povos em sobreviver nos Estados mais débeis, buscando fazê-lo nos territórios dos Estados “soberanos” mais fortes. Temos aí, uma política cruzada entre os interesses do capital em territórios quaisquer, em detrimento da ausência de poder dos sujeitos que não sobrevivem do seu próprio trabalho em seu território de origem.
No caso da América Latina, isso mostra uma faceta contraditória dos dados na região. Como mostra a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), a situação de pobreza e extrema pobreza foi reduzida no continente de 190 para 69 milhões (1980-2007), mas existe ainda um número expressivo de 213 milhões de latinos pobres, o equivalente a mais de 40% da população do continente.
Se a condição de sobrevivência é um dos principais fatores de migração, temos então o continente latino como a terra da não-oportunidade no próprio local, cujo sonho de se realizar parte para terras longínquas, já que o maior fluxo migratório atual dos latinos é a Europa. Ou seja, a pobreza vivida por milhões de pessoas no continente gera e potencializa o número de migrantes da região que em 2005 chegou a 25 milhões.
Esses migrantes são responsáveis por um elemento central de sobrevivência e reprodução dos Estados nacionais latinos: a entrada de remessas de dinheiro advinda dos trabalhadores nacionais em territórios estrangeiros. México, Paraguai, Equador e Bolívia, são países que possuem parte expressiva de suas reservas adquiridas por estas remessas. Estamos falando de um valor agregado nas reservas dos países periféricos, advindo da perversa migração forçada pelo mundo da sobrevivência do norte para o sul. Valor este que permite, por parte dos Estados latino-americanos, a recomposição da distribuição das reservas em políticas de assistência social que contribuem na diminuição das taxas de extrema pobreza no continente.
Essa relação contraditória se manifesta como mais uma faceta perversa do modo de produção capitalista no continente: sujeitos que não conseguem realizar sua sobrevivência no continente migram, e ao enviarem dinheiro para seu país de origem, contribuem formalmente para a diminuição da pobreza no mesmo. Ou seja, o informal trabalhador latino em territórios estrangeiros, formaliza sua contribuição ao Estado de direito, com as remessas líquidas remetidas ao seu país de origem.
O subimperialismo retoma, assim, a discussão da indissociável relação entre economia e política no continente. Os desterrados de cá, exilados forçosos da falta de perspectiva laboral, migram para o norte - seja periférico, seja central – e desde os países centrais, permitem aos Estados periféricos e intermediários, desenvolverem políticas de diminuição do grave problema causado pela ausência de política distributiva e forte presença da aliança burguesa entre capital e Estado no continente.Estamos falando do círculo vicioso do capital contra o trabalho que, ao se desenvolver na relação entre centro e periferia se estendeu na relação entre periferias mais débeis e menos débeis.
Assim, a migração, fruto do desconfortável processo ilegal da realização de um Estado de direito coercitivo em tempos de crise, é, na bonança, um caixa forte dos Governos periféricos fruto de uma massa de trabalho com menor valor de mercado nos países centrais.A superexploração protagonizada pelos trabalhadores latinos fora de seus países de origem – tanto entre periferias, quanto na relação destas com os países centrais -, permite ao subimperialismo exercido pelos Estados latinos, comemorarem sua melhoria nos dados sociais, em meio à perversa relação de intercâmbio desigual gerado no continente.
(*) Economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ES. 09/01/09
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