A Copa não nos deixa mentir

Cada vez mais recebemos e-mails de articulistas colaboradores de sites e blogs nos dando conta de sua insatisfação no que diz respeito aos editores, que muitas vezes decidem publicar apenas as opiniões que vão ao encontro de suas ideologias políticas, repetindo o equívoco da grande mídia, na qual o comum é a sistemática linha editorial de uma nota só.

 Por outro lado, observamos que existe uma tendência de se considerarem como textos opinativos apenas os que têm como tema o explícito e radical ataque ao governo, apontado como responsável por todas as nossas mazelas no presente, no passado e no futuro. Mesmo assim, na contramão, vamos nos enveredar na direção de assuntos fora do âmbito da politicagem que vem substituindo a política, assim como a libertinagem ocupa o lugar da responsável liberdade. Não importa o tempo de exercício profissional, o importante é a manutenção da emoção.

O ilustrador Nivaldo Marques, amigo e parceiro em muitos de nossos livros – sabendo que estamos em processo de recuperação de cirurgia no olho esquerdo (buraco na mácula) –, resolveu enviar-nos uma espécie de protótipo da ilustração do livro infantil “O guarda-chuva do Simão”, apresentando-nos o horizonte de um magnífico trabalho, o que nos proporcionou um enorme contentamento. Sempre buscamos vislumbrar a grandeza das pequenas coisas e gestos, tomando-a como estímulo e viração a empurrar a caravela de nossos sonhos. Foi assim que outro dia recebemos a visita do empresário Osmar Santos, cidadão de Santo Antônio do Monte, que se fez bem-sucedido no setor gráfico. Osmar foi convidado a ser paraninfo de 90 formandos de cursos oferecidos pelo SENAI aos santo-antonienses. Então, surpreendentemente, num tempo em que a proximidade é esquecida e constantemente substituída por gente e produtos de terras distantes, Osmar adquiriu 90 exemplares de nosso livro “Poesia de romance e outros versos”, para presentear seus paraninfados.

Festejamos a atenção do empresário Osmar Santos e nos remetemos há alguns textos inseridos em obras de nossa autoria, como aquele em que afirmamos que ainda somos meio índios e costumamos trocar o ouro pelo espelho. Ou ainda a defesa da tese que aponta a face colonialista de nossas elites, para as quais nossos juízes ainda são de fora. Ou seja, nossa realidade somente é boa quando aprovada pelo olhar estrangeiro, em um New York Times qualquer. Está aí a Copa do Mundo de Futebol, para não nos deixar mentir ou exagerar no argumento.

Dessa forma, diante desse vezo social de inferioridade, um verdadeiro sentimento vira-lata, nós temos mesmo que nos sensibilizar com a distinção da qual o nosso trabalho literário foi alvo, através do espontâneo reconhecimento do empreendedor Osmar Santos, que soube priorizar a proximidade neste Brasil, psicológica e doentiamente, sob a dependência da legitimação conceitual proveniente de além-mares.

*Carlos Lúcio Gontijo Poeta, escritor e jornalista
 www.carlosluciogontijo.jor.br


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