Vila da Fé ou do desespero?

Por Gilvander Luís Moreira
 
Hoje, dia 06 de janeiro de 2012, dia dos Santos Reis, estivemos pela manhã, visitando a Comunidade da Vila da Fé, no Morro Alto, atrás da Cidade Administrativa - de Minas Gerais – em Belo Horizonte. Junto com lideranças das Brigadas Populares, participamos de manifestação de centenas de pessoas da Vila da Fé em defesa do direito a morar com dignidade. Na Vila da Fé, mais de 400 famílias - cerca de 2.200 pessoas - sobrevivem em áreas de risco há vinte anos. Muitas famílias estão em situações profundamente desumanas. "Sobrevivemos em condições desumanas. As autoridades pensam que somos cachorros", desabafam muitos.

A Vila da Fé sofre com o descaso da Prefeitura de Vespasiano e do prefeito Carlos Murta. Há muitos anos os moradores reivindicam a regularização da energia elétrica e da água, a canalização do córrego, rede de esgoto, coleta de lixo, moradias dignas, bem como melhorias no Posto de Saúde. Além disso, com o período de chuvas aumentam os riscos de desabamento de muitas casas. Em época de eleições, os candidatos vão lá, prometem, mas nunca cumprem o prometido.

Na entrada da Vila da Fé há uma pequena e bonita placa: “Bem vindo à Vila da Fé!” Podemos acrescentar: onde se vive pela fé. Mas os moradores já começam a questionar e dizer que talvez a Vila da Fé devesse se chamar Vila do Desespero.
Eis alguns exemplos: Dona Neide, com o filho na cadeira de rodas, sobrevive humilhada. “Com as ruas todas esburacadas não tem como meu filho andar na cadeira de roda aqui. Nem cesta básica a assistência social nos dá”, reclama.

Dona Eva Adriana Ferreira, mãe de 9 filhos, sobrevive em um barraco insuportável. “A enxurrada da BR que dá acesso ao aeroporto de Confins desce e inunda os barracos de todas as famílias aqui. Sobrevivo com meus filhos vendendo balas. Não sei o que posso fazer para sair dessa situação. Não temos para onde ir”, desabafa.  

Dona Clara Eunice Ribeiro, com 4 filhos, também vendedora de balas, tolera a vida em um barraco caindo aos pedaços. “Já perdi quase todos os poucos móveis e roupas, pois molhou tudo. A água aqui dentro do nosso barraco chega a uns 20 centímetros, quando chove bastante”, diz dona Clara.

Daniela Pereira Marques, uma criança de 11 anos, cursando a 6ª série, quase foi soterrada na véspera do Natal. Aos prantos ela clama por casa e por vida digna. “Quero apenas uma casa para viver. Pode ser apenas um quarto”, arremata ela dizendo que não dá para parar de chorar. “Sofro eu, meus três irmãos, minha mãe e meu tio, que com o que ganha nunca vai conseguir consertar essa casa. Quando o barranco caiu aqui encima da parede do nosso barraco, eu assustei tanto que cheguei a pensar que tinha morrido”, diz Daniela desfilando uma grande sabedoria. Ela quer se atriz.

Até quando o prefeito de Vespasiano, o Governo de Minas, o Governo Federal e a classe dominante vão continuar pisando na dignidade de tantas famílias? E a sociedade - pessoas de boa vontade - até quando vamos nos omitir e tolerar essas injustiças?

Assista, nos cinco links, abaixo, nova reportagem, em vídeo, feita por Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra - CPT.
 
1) Na Vila da Fé, dona Clara Eunice, com 4 filhos, sobrevive em péssimas condições. 06/01/2012
http://www.youtube.com/watch?v=vGgEcpdJ9Z0&feature=share
 
2) Na Vila da Fé, dona Eva Adriana, com 9 filhos, sobrevive vendendo balas - 06/01/2012
http://www.youtube.com/watch?v=A-b7FEJfa0c&feature=share
 
3) Na Vila da Fé, na luta, o povo cobra moradia do prefeito de Vespasiano, Carlos Murta - 06/01/2012
http://www.youtube.com/watch?v=ptwJcAJZ4hM&feature=share
 
4) 1a parte - Na Vila da Fé, com 11 anos, Daniela sobrevive em condições desumanas - 06/01/2012
http://www.youtube.com/watch?v=7ySDcJtSh_o&feature=share
 
5) 2a parte - Na Vila da Fé, Daniela Pereira, 11 anos, quase foi soterrada. 06/01/2012
http://www.youtube.com/watch?v=gV-xIAr_iPU&feature=youtu.be
 
Belo Horizonte, 06 de janeiro de 2012.

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