O canto dos povos da floresta está em Rupestres Sonoros do Grupo Mawaca


Por Brenda Marques Pena
com informações enviadas por Magda Pucci*

O Mawaca, especializado em cantar nas mais diversas línguas do mundo, gravou nos dias 07 e 08 de agosto em São Paulo o DVD Rupestres Sonoros. A Diretora Magda Pucci enviou ao Instituto Imersão Latina o trabalho gravado em CD, que é referência mundial de pesquisa e mescla de linguagens dos povos. Impressiona a riqueza da sonoridade do grupo de música O som é um presente polifônico para os ouvidos e o espetáculo desperta outros sentidos pela diversidade de cores e performance de palco.

O CD Rupestres Sonoros chegou em menos de dois meses ao quarto lugar no World Music Charts da Europa, um ranking de grande respeito do que se toca nas rádios européias. O álbum revela uma curiosa relação entre as pinturas rupestres e as músicas indígenas, numa pesquisa multidisciplinar que reúne muito do que tem sido pesquisado desde 1993 por Magda Pucci, que além da direção musical, cuida dos arranjos, pesquisa e é uma das cantoras do grupo.

Neste projeto, o Mawaca se envereda por uma arqueologia musical em torno de imagens ancestrais grafadas nas pedras entendendo que o homem pré-histórico brasileiro foi o índio que dança, faz seus rituais, participa de festas, caça, bebe chicha, ama, pinta seu corpo com urucum, reporta-se aos espíritos do céu, do ar e da terra e adorna-se com colares e cocares.

O novo espetáculo do Mawaca apresenta arranjos arrojados sobre canções dos índios Suruí de Rondôni); dos Kayapó do Xingu; dos Wari do Guaporé; dos Kaxinawá do Acre, dos Txucarramãe do Xingu entre outras. Assim, o grupo mostra parte da enorme diversidade musical dos povos indígenas, pouco conhecida do público brasileiro. “Escolhi canções que me chamavam a atenção pela raridade melódica, pela lindeza da língua, pelo ritmo inusitado; o oposto que um antropólogo faria talvez, porque fui atrás das músicas que são exceções e não as mais características” - comenta Magda.

Rupestres Sonoros apresenta uma diversidade sonora impressionante com rítmicas variadas e diversas nuances vocais não apenas musicais, mas pelas línguas ali presentes. “Esses 400 povos que vivem aqui no Brasil falam aproximadamente 180 línguas diferentes. Dessas cantamos umas 6 línguas fora as que o Kadosch pesquisou para compor a música de abertura do show. Por si só, os nomes dos povos indígenas do Guaporé e do Xingu já garantem uma rítmica interessantíssima, resulta em música", conta Magda.

Foram três anos, ao longo dos quais o grupo passou por diversas fases de elaboração, iniciado com a proposta de Marcos Callia que sugeriu ao Mawaca trabalhar sobre as imagens rupestres para uma apresentação num encontro de analistas junguianos. Magda então começou a sonorizar os símbolos abstratos das cavernas criando partituras rupestres que eram tocadas na hora pelo grupo e pelo público que ‘tocava pedras’. Desde então, as experiências não pararam e a cada momento, músicas e idéias ganhavam novos aportes por conta das pesquisas, das experiências em shows, das investidas em outras linguagens e das conexões com outras áreas, como a lingüística, a etnopoética, a arqueologia, os caminhos mitológicos e até mesmo a neurociência.

Magda diz que foi necessário transformar essas músicas “porque o tempo original dessas canções é outro, desacelerado mesmo. Então é evidente que mesclamos com outros elementos para que esses cantos se tornassem próximos do mundo atual, mais compreensíveis aos ouvidos apressados das grandes cidades” - afirma Magda.

Para essa tarefa, ela convidou o produtor musical Marcos ‘Xuxa’ Levy que aplicou vários recursos da tecnologia na produção do CD. Ele abusou de delays, phasers, modulators, oitavadores e todos os tipos de reverbs que deram uma nova dimensão ao som do Mawaca, criando um resultado surpreendente. Xuxa Levy comenta sobre o processo de transformação sonora do Mawaca. “O lance pop está mais nas texturas. A idéia era dar um ‘punch’ nas vozes e nos instrumentos para soarem mais fortes e viscerais. O divertido foi pegar um som cru e usar os recursos tecnológicos para deixar a música mais visual, transportar ouvinte para lugares imaginários, mexer com as emoções, para que eles se sintam numa viagem. Cada música era um filme na minha cabeça. Eu coloquei também elementos bem distantes como, por exemplo, sons de máquina de escrever, garrafas e castanholas que não têm nada a ver com a cultura indígena, mas que dialogam bem com esses elementos - afirma o produtor Xuxa, que hoje, vive na Espanha.

Paulo Bira contribuiu também na produção do CD criando ambientações sonoras para o tema Kayapó e para as duas músicas compostas por Magda usando apenas nomes de povos indígenas: “O Mawaca oferece essa possibilidade de aliar a pesquisa aos sons contemporâneos. Esse é um grande desafio e ao mesmo tempo o grande barato do grupo”, afirma o produtor e também baixista da banda. E como os rupestres foram geradoras de todo esse projeto, o grupo convidou o VJ Panais para produzir as imagens que projetadas no telão durante o show, criando um diálogo animado com as letras, grafismos indígenas e cenas do mundo rupestre. A cenografia do espetáculo foi assinada por Silvana Marcondes, figurinos da jovem estilista Jessica Vidal, e participações especiais como da cantora da primeira formação Fabiana Lian, Xuxa Levy, produtor do CD e Carlinhos Antunes no cuatro e na kora.

SOBRE O MAWACA
O MAWACA é um grupo que pesquisa e recria a música das mais diversas partes do globo. É formado por um grupo vocal e um grupo instrumental formado por acordeom, cello, flauta, saxes, baixo, além de percussões do mundo todo. Nos 6 CDs produzidos, o Mawaca passeia por um repertório em mais de 15 línguas, onde passeia por músicas de tradições díspares como a japonesa e a irlandesa; de países tão distantes entre si como Finlândia e México, Oriente Médio e Indonésia, regiões diferentes como África Central e Península Ibérica. O Mawaca, ao recriar sobre esses temas, busca sempre estabelecer relações com elementos da música brasileira criando conexões com a contemporaneidade.

Além de ser referência no cenário da música do mundo no país, o grupo também tem participado do circuito dos festivais europeus e da América Latina. O Mawaca foi selecionado para representar o Brasil na WOMEX em Sevilha (2003) e na POPKOMM, realizada em Berlim em 2006, nas atividades da Copa Cultura.

Não deixe de acessar o belo site do grupo para conhecer mais do Mawaca: http://www.mawaca.com.br/.

O CD pode ser encontrado no site da Azul Music, distribuidora do grupo. http://www.azulmusic.com.br/produtoDetalhe.asp?id=1084#2

Direção Musical: Magda Pucci

Cantoras:
Angélica Leutwiller, Cris Miguel, Magda Pucci, Sandra Oak, Rita Braga e Zuzu Abu. Instrumentistas: Ramiro Marques (sax soprano e tenor), Gabriel Levy (acordeom), Ana Elisa Colomar (cello e flautas), Paulo Bira (baixo), Armando Tibério (bateria e congas) e Felipe Veiga (vibrafone, marimba e tambores). Participações especiais: Fabiana Lian, Xuxa Levy e Carlinhos Antunes

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