A mensagem de Natal deixada por Luiz Lyrio



Feliz Natal, Aracaju, Salvador, Cajazeiras, Laranjeiras, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Sorocaba, Dublin, Montpelier, Montevidéu, Miami, Jaboticatubas, Barbacena, Leopoldina, Santa Luzia, Nova Era, etc., etc., e Feliz 2010para todos!

Está chegando o Natal.

Os sinos bimbalham abobalhados e mais superaquecidos que nunca! Do alto das torres que habitam, eles assistem desolados à terrível mudança do clima da Terra, que condena milhões à seca e à fome e outros milhões a sobreviverem imersos em muita água e lama contaminadas.

Enquanto discípulos de Osama continuam tentando explodir a Terra, o Prêmio Nobel Obama, investido do poder maior até hoje concedido a um terráqueo, promete ao mundo a paz, enquanto, longe de se livrar da herança maldita de Bush, faz a guerra, servindo aos interesses corporativos dos grandes fabricantes e traficantes de armas do Império. “C’est la vie!”, comenta Sarcozy. “Não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos”, diz Dom Berlusconi.

No Brasil, enquanto adeptos do Talibã atacam moças de minissaia em faculdades freqüentadas por rapazes que parecem sofrer das faculdades mentais e políticos corruptos oram, agradecendo por propinas alcançadas, o país pena no escuro com apagões de energia que, junto com a ascensão, na grande mídia e nos grandes templos, de homens de mentalidade retrógrada ao status de formadores de opinião, aceleram nosso caminho para um inusitado medievo brasileiro.

Em sua manjada manjedoura, o mais festejado dos bebês testemunha estarrecido a crueldade dos homens que continuam matando uns aos outros. Decepcionado, o Salvador da humanidade, que veio ao mundo pregar o amor, continua sem entender - apesar de compreender - porque o ser humano tem tanta dificuldade em praticar o maior dos sentimentos e porque tanto mata em nome dele, que deveria se manifestar com o único fito de unir e amansar os corações.

Vindo do Além, o Espírito do Natal grita contra o corte indiscriminado de pinheiros e a matança de porcos e perus que acontece nesta época do ano. Inconformado, ele reclama da gastança desenfreada que não permite que ele seja lembrado e exercitado durante as festas natalinas.

Enquanto isso, Papai Noel, com suas roupas vermelhas, sua barba de revolucionário dos anos sessenta e seu costume de colocar criancinhas no colo e beijá-las, sofre com o ataque dos programas de baixarias policiais da TV que o rotulam de “comunista pedófilo” e bradam por prisão perpétua para ele. Repudiado por alguns por incentivar o consumismo e aproveitar o Natal para faturar trabalhando em grandes lojas de Shopping Centers, o bom velhinho, com o derretimento do gelo no Pólo Norte, viu converter-se em água o prédio que abrigava seu lar e sua fábrica de brinquedos. Tendo conseguido verbas públicas para construir um novo prédio, agora usando material convencional, Noel foi acusado de superfaturar a obra. Para complicar ainda mais as coisas, ele foi acusado também de maltratar e submeter a trabalho excessivo suas diligentes renas. Essas acusações infundadas obrigaram a assessoria jurídica do bom velhinho a passar grande parte do ano ocupada com sua defesa. No momento, o grande desafio que se coloca para os advogados de Noel é conseguir, em tempo hábil, liminares que suspendam o embargo da obra e permitam o emprego das renas na entrega de presentes na noite feliz.

Obeso, gotoso, deprimido, hipertenso, ulceroso, portador de terríveis joanetes, com artrose nos dois joelhos, sofrendo de hipotireoidismo e de insuficiência renal, apresentando os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer e do Mal de Parkinson, recém operado de câncer na próstata, diabético, sobrevivente de dois AVCs e um enfarte, ainda convalescente da gripe suína e com as unhas dos dois dedões do pé encravadas, Papai Noel prepara-se para mais uma jornada difícil. À zero hora do dia vinte e cinco de dezembro (hora de Brasília, o que garantirá às criancinhas do nordeste a entrega de presentes a partir das 23h do dia 24), a despeito do intenso e confuso tráfego aéreo do planeta, do perigo das baterias antiaéreas e dos rifles Springfield calibre ponto 30 que colocam em risco seu trenó e sua integridade física nas grandes cidades brasileiras, Noel promete entregar presentes para todos os pequeninos da Terra que estiverem devidamente cadastrados em seu banco de dados.

A todos, desejamos Boas Festas e um ano novo habitado por políticos honestos e cumpridores de seus deveres e promessas, mulheres e homens fiéis, jornalistas e advogados que não mentem nem trapaceiam no exercício de seus ofícios, gnomos, duendes, fadas e ETs simpáticos. E, se não for querer muito, desejamos, ainda, para os habitantes de todos os recantos deste planeta, principalmente, muita PAZ.

Um forte abraço,

Luiz Lyrio
http://www.luizlyr.blogspot.com/
(in memoriam)

(Se teve algo difícil para nós integrantes do Imersão Latina e amigos do poeta e professor Luiz Lyrio em 2010 foi ter de dizer adeus a este que usava as letras como arma contra a injustiça e a favor da paz...os seus textos permanecerão eternos assim como seu legado deixado por onde passou...)

Luiz Lyrio é o homenageado do Nós da Poesia volume 2, que está no prelo e será lançado em 2011 pelo selo IMEL em parceria com a All Print Editora.

A caricatura foi feita por Bruno Grossi da Revista Nota Independente.

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