Ano novo com sotaque regional: Vamos pegar no batente de com força!

O Instituto Imersão Latina recebeu mensagens de ano novo de diferentes terras e posta aqui até o fim-do-ano toda a diversidade de sotaques do Brasil e esperamos receber de outros países da América Latina também.

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Na primeira semana de janeiro postaremos uma retrospectiva do ano de 2009. Essa é uma forma de mostrar também quem trabalhou pela comunicação e cultura alternativa, em parceria com o IMEL.

E vamos pegar no batente de com força em 2010!

Começamos com uma região peculiar de Minas Gerais: o Jequitinhonha.

A colaboração é do poeta cordelista Tadeu Martins: tadeu.martins@bol.com.br

Mensagem de um jequitinhonhense

O Natal passou. Tá quase na hora de 2009 abotoar o paletó, virar um chano na vastidão do universo. 2010 tá chegando, novo, siligristido, com o embornal cheio de esperança e com as gibeiras cheias de sonhos.

Vamos botar sentido em 2010. Não vamos comer pança, fazendo negaças pra vida, e deixar o cavalo passar arriado. Vamos juntos pegar essa onda. Vamos pegar a estrada da vida com muito juízo, com cartilogência e sem calundú, vamos andar depressa, mas sem pocar os pés e sem relepar as pernas.

Vamos pegar no batente de com força, sem muita madorna, deixar as estripulias de lado, fugir das ingrisias, desprezar os malfazejos e burriscar as 365 folhas do caderno de 2010 com as cores da solidariedade. Nós do Jequitinhonha não somos de cartear marra ou rotar quibebe, mas sabemos que a vida não dá duas safras e que só produz cinco frutas boas: saúde, trabalho, amor, amizade e diversão.

Então pronto, vamos deixar de bestagem e vamos pongar na cacunda de 2010 com muita disposição e dignidade, dando espaço pra companheirada, e só vamos apiar em 2011, com os alforges cheios das cinco frutas que a vida produz. E ainda haveremos de esparramar as sementes no mundo. Sem panavuê e sem livuzia.

Sejam muitos felizes em 2010!!!!

Tadeu Martins

Mini-dicionário português/jequitinhonhês
Premiado no Concurso Nacional de Poesia Sertaneja em 1984.

JEQUITINHONHÊS - O DIALETO DO VALE
Por Tadeu Martins


Urubu não chupa cana
língua de sogra não tem peçonha
cantador pra ter coragem
não precisa ter vergonha
eu vou cantar a minha terra
Vale do Jequitinhonha


Nossa língua é diferente
quando eu falo você nota
resfriado é difruço
nome de rã é caçota
quilo e meio pra nós é prato
e carro de mão é galinhota


Derrancado é estragado
inginhar é encolher
crocodilar é trair
inricar é enriquecer
conversa fiada é ingrisia
e “bater caçoleta” é morrer


Madorna quer dizer cochilo
besteira é sinônimo de bestagem
gastura é o mesmo que coceira
tutano quer dizer coragem
“gavar o toco” é elogiar
e “rotar quibêbe” é “contar vantagem”


Zanzar é andar sem rumo
e obrar é defecar
apurado é caboclo nervoso
e ouvir é assuntar
trabalho pesado é barrufo
e escrever é assentar


Veronca é uma moeda qualquer
Ana é apelido de um cruzeiro
Nica também é moeda
e puba quer dizer dinheiro
doutor é o nome do urinol
e goró é caboclo roceiro


O órgão genital feminino
é danado pra ter nome diferente
pressiguida é um deles
para dizer no meio de gente
belarmina, míndia ou prequita
até parece nome inocente


Restojo é o mesmo que resto
e ruir é destiorar
visagem é assombração
e zunir é arremessar
nascida é nome de furúnculo
e tinir alguém é matar


Gibeira é o bolso da calça
que nunca anda lotado
ficar pensando é bistuntar
cubar é olhar de lado
desinxavido é inexpressivo
e caboclo elegante é espigado


“Quebrar a orêia” de um objeto
é o mesmo que dobrar
nome de colo é cacunda
carregar na cacunda é escanchar
china é bolinha de gude
e “dar pinicão” é beliscar


Arrigestir é resistir
melar quer dizer buzuntar
ajutório é o mesmo que ajuda
cobrir o corpo é ribuçar
fôrgo é o apelido do fôlego
“dar fôrgo morto” é roubar


Pocar é estourar
“ficar perrengue” é adoecer
lançar quer dizer vomitar
e “virar um peido” é correr
negar à direita é dobrar
“embainhar o facão” é envelhecer


Burriscar quer dizer rabiscar
“a leitura” é sabedoria
coxé é quem manca muito
“encheção de saco” é livuzia
pipôco é o mesmo que estrondo
e cartilogência é categoria


“Abrir o pano” ou “limpar o beco”
você sabe o que quer dizer ?
é o mesmo que “virar um peido”
se não deu para entender
eu explico mais detalhado
é azular, sumir ou correr


“Tiçar a mão”, “picar o tapa”
tudo significa bater
pêia é o caboclo esperto
incapaz de esmorecer
“deu upa” é “ficou difícil”
mas foi fácil você entender.


Esta poesia está incluída no livro “POESIA SERTANEJA”
do 1º Concurso Nacional de Poesia Sertaneja - 1984
(Editora Lunardelli – Florianópolis/SC)

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