Reflexões sobre revoluções necessárias e a morte do comandante da revolução cubana
"Acredito mais nas revoluções dos poetas do que em revoluções armadas, mas é fato de que Fidel ficará para sempre na história do povo cubano em um regime que priorizou educação, saúde e cultura para o povo e construído com eles. E quem ainda pensa: mas há tanta pobreza em Cuba, lembrem-se do Haiti. Acredito na Revolução Cubana como uma demonstração de amor e solidariedade internacionalista que não morrerá junto com a morte de Fidel."
Brenda Marques Pena - Presidente do Imersão Latina, que tem entre os inspiradores as idéias de José Martí, Bolívar e Che, de integração da América Latina que hoje passa muito pela luta feminista, dos negros e dos indígenas, pobres e outros que vivem à margem do sistema político-econômico excludente orquestrado por interesses nada coletivos.
Brenda Marques Pena - Presidente do Imersão Latina, que tem entre os inspiradores as idéias de José Martí, Bolívar e Che, de integração da América Latina que hoje passa muito pela luta feminista, dos negros e dos indígenas, pobres e outros que vivem à margem do sistema político-econômico excludente orquestrado por interesses nada coletivos.
Por Alexei Padilla*
Na manhã de hoje um amigo brasileiro ligou para avisar que Fidel Castro tinha partido. O líder da Revolução cubana (1959) é uma das personalidades mais marcantes da história contemporânea. Em rede nacional, o presidente Raúl Castro, irmão mais novo de Fidel, anunciou visivelmente emocionado, a morte do lendário revolucionário.
Seu nome e exemplo suscitam diversos sentimentos. Fidel inspira os sonhos e lutas dos militantes de esquerda no mundo todo e, ao mesmo tempo, a rejeição das pessoas que não concordam com os ideais do revolucionário cubano.
Contudo, exige-se seriedade na hora de fazer um balanço do legado de um líder, cuja influência transpôs as fronteiras da pequena ilha de Cuba. Uma análise crítica da figura de Fidel Castro, e o que é mais importante, da Revolução cubana não deve esconder a natureza autoritária do regime político cubano, mas tampouco os ganhos desse acontecimento transcendental.
A Revolução comandada pelo Fidel Castro trouxe a demolição de um sistema democrático liberal, quase perfeito normativamente, mas sequestrado pelos interesses da oligarquia e dos Estados Unidos e que fez muito pouco pela dignificação de milhões de cubanos que viviam na extrema pobreza. Não preciso de mais referentes, a minha própria família (negra e pobre) é resultado de uma mobilidade social que não teria existido sem a revolução.
É bom lembrar que são pouquíssimas as democracias latino-americanas que tem conseguido cumprir suas promessas de igualdade, justiça social, educação, saúde e segurança pública para todos. Cuba em meio de suas próprias contradições internas e sob os efeitos do boicote econômico dos Estados Unidos apresenta indicadores nessas áreas que países muito mais ricos e desenvolvidos, como México, Brasil ou Peru, não têm conseguido igualar.
De Fidel Castro, poderá ser criticado o personalismo, censura, a repressão contra vozes dissidentes, os erros cometidos em matéria econômica, etc. No entanto, esses fatos não impediram a consolidação de um povo envolvido na política, informado, crítico e capaz de diferenciar a verdade da demagogia, as loucuras das realidades. Um povo sem o complexo de vira-lata e incapaz de se sentir inferior diante de europeus e estadunidenses.
Como cubano desejo que uma eventual democratização aprofunde a emancipação do ser humano, o respeito pelas diferenças, a tolerância e aceitação do dissenso, a prosperidade econômica. Porém, espero que isto não signifique a reprodução das falências e problemas que atingem os nossos vizinhos: corrupção sistêmica, desigualdade gritante, violência de todos os tipos, narcotráfico, caos na saúde e na educação, intervencionismo estrangeiro, fundamentalismos e intolerância religiosos que atingem o caráter laico dos estados.
Ainda que Fidel não esteja mais fisicamente, justiça, paz e igualdade, solidariedade, continuarão a ser o sentido da luta do povo cubano.
*RELATO DE ALEXEI PADILHA, jornalista Cubano que vive hoje no Brasil e é um dos colaboradores do Instituto Imersão Latina
Cubana chora a morte de Fidel Castro. Foto da Agência EFE |
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