Primavera Árabe começou primeiro em Marrocos, afirma Safir


“A experiência com a luta dos movimentos sociais por Direitos Humanos em Marrocos tem tido avanços a favor das mulheres, das crianças e imigrantes”

Por Brenda Marques*

Bouchaib Safir, Presidente da Câmara do Comércio Brasil-Marrocos é militante dos Direitos Humanos e representante do Partido do Meio Ambiente marroquino. Ele mora no Brasil há vinte anos. No encerramento do XVIII Encontro Nacional de Direitos Humanos, realizado na última semana no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte, Safir contou em entrevista a trajetória de luta dos direitos dos imigrantes, mulheres e crianças no país marroquino, que viveu um longo período ditatorial.

MNDH: Como o governo marroquino tem feito para estabelecer a democracia no país e garantir direitos que eram negligenciados pela ditadura?

SAFIR:  O Governo do Marrocos é hoje uma monarquia constitucional, com eleição livre, tem parlamento e cada vez há mais espaço para a democracia e defesa de direitos humanos . O movimento de democratização e libertação de países africanos e árabes, que ficou conhecido como Primavera Árabe começou em 1999, em Marrocos.* O atual rei de Marrocos, Mohamed VI, criou uma comissão da reconciliação, onde as pessoas que sofreram torturas e foram oprimidas pelo regime ditatorial estão recebendo indenizações. O presidente da comissão que conduziu essas negociações era um preso político. Então é uma coisa muito importante para tirar o rancor da população e instabilidade com o Estado.

MNDH: Como o Marrocos tem atuado na defesa dos direitos humanos?

SAFIR: A experiência com a luta dos movimentos sociais por Direitos Humanos em Marrocos tem tido avanços a favor das mulheres, das crianças e imigrantes. Temos o problema de que muitos marroquinos buscam imigrar ilegalmente para a Europa e alguns acabam sofrendo, morrendo ao tentar atravessar o Mediterrâneo. Então o Marrocos tem atuado junto à ONU para dar oportunidade para que os africanos fiquem no país, com condições dignas. Os imigrantes africanos têm sido legalizados  com direito a trabalhar e a estudar, como todo marroquino.

MNDH: E como o senhor vê a relação do Brasil ao direito dos imigrantes?

Eu sou imigrante. Vim para o Brasil em 1994.Tenho filho brasileiro. O processo de legalização no país é lento. O imigrante que vem para o Brasil, geralmente busca uma oportunidade, muitos fogem de guerras e conflitos em seus países e da miséria. E para ficar aqui é necessário um suporte moral, físico e econômico. É um país imenso, amigo de países africanos, árabes e do terceiro mundo.

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*Entrevista realizada durante cobertura do Encontro Nacional de Democratização da Comunicação 
Acompanhe outras informações e cobertura completa no site: http://www.mndh.org.br


** O episódio que pode caracterizar o início dos Anos de Chumbo no Marrocos está relacionado à repressão da Revolta de Rife (1958-1959) que deixou um saldo de milhares de pessoas mortas. A revolta eclodiu entre a população do norte do Marrocos, na região denominada como Rife, por conta da incorporação daquela região ao reino do Marrocos no processo de independência do país (1956). A sublevação foi duramente reprimida com bombardeios aéreos que foram coordenados por Hassan II, o futuro rei do Marrocos - figura mais expoente da política marroquina, que permaneceu durante quatro décadas no poder. (Fonte: artigo Revisitando o Marrocos: dos Anos de Chumbo à Primavera Árabe, de Catarina Cerqueira de Freitas Santos. http://oolhodahistoria.org/n18/artigos/catarina.pdf (acesso em 18/08/2015)

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