12 de agosto: dia nacional das artes - Destaque para a artista Michelle Cunha

Neste dia nacional das artes, celebramos a data destacando matérias sobre alguns artistas brasileiros e sua arte, de diversas regiões do Brasil. Começamos pelo Norte: com Michelle Cunha.
A matéria abaixo foi publicada no jornal O Liberal e compartilhada por Ilma Teixeira, que sempre colabora com o Imersão Latina com informações da região Amazônia.
Certa vez ela me prestigiou com uma série de quadros da artista, feitos a partir de poemas que escrevi. Este foi um presente muito especial que compartilharei outra ora por aqui.
Parabéns a todos os artistas brasileiros!

(Brenda Marques Pena - Presidente do Instituto Imersão Latina - uma associação de artistas, jornalistas e escritores independentes.)

Entre as ruas e as galerias

Após descobrir sua vocação no grafite, Michelle Cunha leva sua arte de volta ao ateliê, com a exposição ‘O Mundo de Dentro pra Fora’
Por Alan Bordallo
Da Redação
Pintar era só o que a paraense Michelle Cunha queria, desde que se descobriu uma artista visual. O começo foi tradicional, em um ateliê, variando técnicas e linguagens como gravura, desenho e pintura. Quando ela descobriu a rua e as latas de spray, não houve tempo para dilemas, e logo incorporou a nova visão ao seu repertório. E foi sem fazer distinção entre os espaços abertos e fechados que ela construiu seu universo criativo e carregado de cores, e que agora pode ser visto concentrado na galeria Theodoro Braga, da Fundação Cultural do Nará Tancredo Neves, que recebe sua exposição “O Mundo de Dentro pra Fora”. A mostra será inaugurada hoje e fica aberta até o dia 29, com visitação aberta de segunda a sexta-feira.
Talvez o único espaço onde Michelle não se sentia tão bem fosse as salas de aula do curso de Pedagogia. Quando percebeu que preferia muito mais as salas da Fundação Curro Velho, onde teve sua iniciação artística, ela largou a faculdade para tentar o curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Pará (UFPA). No início, ainda havia traços do que pensava ser sua vocação. “Fiz licenciatura em Artes Visuais, e no começo queria ser professora. Mas depois, com muito tempo dedicado ao ateliê, abandonei essa ideia”, lembra.
A mudança foi inevitável. Dentro do ateliê ela passou a “pensar o mundo de uma outra forma”. “Pensava através da pintura, da gravura e da arte conceitual”, lembra. Neste início de carreira, ela decidiu mudar-se para Brasília. E foi nas ruas da Capital Federal que começou a moldar seu estilo. Além de produzir no ateliê, ela passou a fazer da rua um espaço para deixar seu trabalho. E aí acabou conhecendo o grafite. “Já tinha essa vivência e experiência de pintar na rua, mas não como uma coisa assídua, um estilo de trabalho. Comecei a andar com pessoas que faziam arte na rua, e deixava meus trabalhos, usando pincel, tinta de tela mesmo, técnicas de ateliê. Até que um amigo me deu uma latinha e perdi esse medo de manipular o spray - que não é tão simples como parece”, explica.
A simplicidade da arte de rua fez Michelle incorporar outras filosofias ao seu trabalho. E causou até uma necessidade de “expor” mais, indepentemente. “Isso agregou outros valores ao meu trabalho, outras formas de pensar a pintura. Comecei a ter vontade de trabalhar toda semana na rua. E logo comecei a ver uma resposta”, lembra. A resposta veio, principalmente, após uma personagem de Michelle se multiplicar pelos muros do plano piloto de Brasília: uma coruja, multicolorida. “A coruja é um animal do Cerrado. E a que eu pintava era comum ser associada com a coruja ‘buraqueira’, que se vê muito em Brasília”, lembra.
Aquele símbolo passou a servir como a assinatura de Michelle, já que aparecia sozinho, sem letras, e mesmo assim era ligado à sua autora. “Em oito anos morando lá e expondo em lugares fechados, poucas pessoas me conheciam. Mas na rua passei a ser reconhecida pelo trabalho de intervenção em espaços da cidade. Isso deu outro gás para o meu trabalho”, lembra. E foi assim que, definitivamente, ela percebeu que não enxergava necessariamente uma distinção entre o “o cubo branco”, como define o ateliê, e “o mundo a ser conquistado”, como enxerga a rua. E sim uma relação de interdependência.
Nos oito anos que passou longe de Belém, Michelle expôs em cidades como Pirenópolis-GO, São Paulo-SP e Recife-PE. Seu trabalho foi conferido por amigos, por meio da internet. E agora eles, e os demais itneressados, poderão ver de perto esta produção, na primeira exposição de Michelle Cunha em Belém. “Mesmo vivendo anos fora, quem via meu trabalho sentia a relação com Belém, expressa principalmente pelas cores carregadas e até exageradas que viraram minha marca, e são marcas do Norte. Voltar para casa, vivendo da arte que produzo, significa para mim uma grande conquista”, conclui.

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