Carro-biblioteca e Caixa-estante: uma entrevista com Aline Cântia


A Biblioteca Estadual Luiz de Bessa tem desenvolvido uma política de incentivo à leitura em Belo Horizonte com projetos móveis, que levam os livros até regiões mais afastadas do centro da Capital. Além dos livros, algo em comum entre dois desses projetos: o “Carro-biblioteca” e a “Caixa-estante” é a presença da dupla de contadores de histórias, conselheira e coordenadora do Ponto de Memória do Instituto Imersão Latina Aline Cântia. Com o fim de uma etapa do projeto, conversamos com Aline Cântia e você lê aqui a entrevista publicada no site da Aletria

Aletria: Como foi participar do Carro-Biblioteca? 

Aline Cântia: O meu trabalho em parceria com Chicó do Céu junto ao Carro-Biblioteca durou 02 meses e foi realizado em 10 espaços, totalizando 16 apresentações: Bairros Capitão Eduardo, Teixeira Dias, Vale do Jatobá, Setor Braile da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Conjunto Paulo VI, Minas Caixa, além da Biblioteca Infantil, Centro de Internação Provisória São Benedito e Escola da Comunidade Assis Chateaubriand. A apresentação narra a história de um catador de papel que todas as noites abria o tapete e sobre ele colocava jornais, livros, revistas e recortes recolhidos durante o dia. Era neste momento, motivado por aquelas imagens, que ele imaginava e lembrava contos de bichos, bruxas, reis e rainhas. A história se inverte quando o filho vai para escola e começa a recontá-los, recortando e juntando aquelas mesmas letras. E assim, a casa vira um ambiente de troca literária, aprendizado e incentivo à leitura. O público é naturalmente envolvido na trama e convidado a silenciar os muitos ruídos que invadem sua vida diária. 

Aletria: A contação de histórias ajudou a divulgar o evento e a leitura de que forma? Como você destaca o uso da contação de histórias como incentivo a leitura? 

Aline Cântia: Acreditamos que a leitura partilhada, seja no seio da familia, na sala de aula, nos momentos de aconchego, na casas das avós ou tias, na biblioteca, numa livraria, enfim, cria a possibilidade de juntar pessoas numa rede de afetos. Isso se constitui uma experiência agradável, que marca a memória pelas palavras. Certa vez ouvi da professora e coordenadora de projetos do Instituto Campos, Alaís Avila, que o "mediador é como o narrador ancestral que tem sempre uma história para contar sobre um livro, uma cena que leu, uma poesia que o emocionou, uma história de amor que o moveu para viver a sua própria história. E do lado de lá há quem o escuta e observa, podendo ou não trilhar os caminhos da aproximação" Assim, nosso trabalho, em parceria com os dois projetos: Carro-Biblioteca e Caixa-Estante, teve como intenção promover momentos de experiência estética e sensibilização para o mundo das palavras - sejam escritas, cantadas ou ainda vivas na oralidade.

Aletria: Esses projetos de incentivo a leitura móveis como o carro-biblioteca têm funcionado? Qual a importância deles?

Aline Cântia: Nesta nossa caminhada literária temos tido a sorte de encontrar pessoas e trabalhos incríveis pelo país. E o que percebemos é que estes projetos, quando conseguem manter a continuidade, alcançam resultados muito positivos. Sabemos que o acesso ao livro e à leitura ainda é muito restrito e pouco familiar a uma grande parcela do povo brasileiro. As bibliotecas móveis, portanto, conseguem assegurar este acesso - levando os livros para cada pedacinho do país, seja nos bairros mais distantes aqui mesmo de BH, seja para comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas, quilombolas. E neste contexto é importante a gente ressaltar a figura essencial do mediador. É ele que vai cuidar do espaço, para que seja convidativo, assim como também vai oferecer, com prazer, as possibilidades de leitura.

Aletria: E agora? Quais os futuros trabalhos de Aline Cântia de Chicó do céu? 

Aline Cântia: Estamos começando a gravar nosso primeiro CD "Contos de lá nos Cantos de cá", aprovado no Fundo Municipal de Cultura/12, com seis faixas de histórias e canções recolhidas em pesquisas e imersões pelo Brasil e pelo América Latina. O lançamento está previsto para o início de 2013 e contará com participação de outros narradores e músicos convidados e terá a direção artística do músico Gustavo Finkler. Também estamos com o projeto do Ponto de Memória, um prêmio do IBRAM/Minc, recebido no final do ano passado. É um trabalho realizado em Sabará, voltado para a salvaguarda das histórias locais. Outros dois projetos são o "Vida e Obra" e "Pará dos Vilelas: um canto de palavras e memórias", aprovados no Edital Funarte Microprojetos São Francisco. EM 2012 também ganhamos um presente muito bacana: o convite da SABIC para trabalhar Literatura e Memória com os mediadores de leitura das bibliotecas comunitárias. O projeto começou em maio e segue até outubro. Tem sido uma experiência muito rica! Também em 2012 estreamos o Vida de Viajante, um espetáculo sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga. Em parceria com o percussionista Carlinhos Ferreira, temos misturado pesquisas de campo, histórias de vida e muita música. E além destes trabalhos, vamos seguindo nossa caminhada com apresentações artísticas para todas as idades e trocas de saberes e memórias junto a educadores, artistas, agricultores, agentes de cultura e leitura por Belo Horizonte e também pelo Brasil afora. Dia 08 de setembro estaremos na Feira de Histórias, com a Aletria!

Publicado em: http://www.aletria.com.br
Foto: Apresentação de Aline Cântia e Chicó do Céu no Colégio Magnum, por Brenda Marques

Conheça mais sobre o trabalho de Aline Cântia e Chicó do Céu: http://alinecantiaechicodoceu.blogspot.com.br

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